A análise das crateras de impacto do Ryugu, usando dados de imagem da sonda Hayabusa 2, iluminou a história geológica do asteróide próximo da Terra.
Um grupo de cientistas, liderado pelo professor assistente Naoyuki Hirata do Departamento de Planetologia da Escola de Ciências da Universidade de Kobe, Japão, revelou 77 crateras em Ryugu.
Ao analisar os padrões de localização e as características das crateras, determinaram que os hemisférios este e oeste do asteróide foram formados em diferentes períodos de tempo. Espera-se que os dados recolhidos, publicados recentemente na Icarus, possam ser usados como base para futuras investigações e análises de asteróides.
A sonda Hayabusa 2 da JAXA (Agência Espacial Japonesa) realizou várias missões para melhorar a nossa compreensão do asteróide próximo da Terra, Ryugu, com a forma de um pião. Desde que aí chegou em junho de 2018, a sonda não tripulada recolheu amostras e um grande número de imagens. Espera-se que possam revelar mais sobre a formação e sobre a história de Ryugu.
A equipa concentrou-se na utilização dos dados de imagem para determinar o número e a localização das crateras de impacto no asteróide. As crateras de impacto são formadas quando um asteróide mais pequeno ou cometa atinge a superfície do asteróide. A análise da distribuição espacial e do número de crateras pode revelar a frequência das colisões e ajudar os cientistas a determinar a idade de diferentes áreas da superfície.
A Hayabusa2 possui muitos tipos diferentes de câmaras, incluindo câmaras de navegação óticas (ONC, “Optical Navigation Cameras”). A equipa das câmaras de navegação foi capaz de capturar cerca de 5000 imagens de Ryugu, que revelaram muitas características superficiais – incluindo crateras de impacto.
Para este estudo, foram utilizados dados de imagem recolhidos pela câmara ONC-T entre julho de 2018 e fevereiro de 2019. O grupo de investigação teve que determinar quais das imagens mostravam crateras.
Foram usadas 340 imagens para a contagem de crateras, com imagens estéreo facilitando a sua identificação. Um mapa mosaico global foi construído a partir das imagens ONC e renderizado num modelo de computador com a forma de Ryugu. Um software foi então usado para medir o tamanho, latitude e longitude das crateras. Também utilizaram LiDAR (Light Detection and Ranging pulsed laser) para determinar o tamanho total de Ryugu.
As depressões identificadas em Ryugu foram divididas em quatro categorias, dependendo de quão evidente era a sua aparência circular.
As depressões de Categoria I a III foram classificadas como crateras distintas. As depressões de Categoria IV tinham apenas características quase circulares, portanto era difícil determinar se eram crateras ou não. Muitas crateras tinham pedregulhos ou não tinham uma forma distinta. As depressões demasiado vagas para determinar foram deixadas de fora dos resultados.
A equipa foi capaz de identificar todas as crateras de impacto com mais de 10 a 20 m de diâmetro em toda a superfície de Ryugu – um total de 77 crateras. Além disso, foi descoberto um padrão na sua distribuição.
A secção do hemisfério leste, perto do meridiano, tinha mais crateras. Esta é a área perto da grande cratera chamada Cendrillon – uma das maiores de Ryugu. Em contraste, quase não existem crateras no hemisfério ocidental – sugerindo que esta parte do asteróide foi formada mais tarde. A análise também revelou que existem mais crateras a latitudes mais baixas do que em altas em Ryugu. Por outras palavras, existem muito poucas crateras nas regiões polares de Ryugu.
Determinou-se que a cordilheira equatorial no hemisfério este é uma estrutura fóssil. Quando asteróides como Ryugu giram a alta velocidade, isto pode fazer com que alterem a sua forma. Pensa-se que esta cordilheira se tenha formado no passado distante durante um período em que Ryugu tinha um período de rotação de apenas 3 horas.
Dado que o hemisfério este e oeste se formaram em diferentes períodos da história do asteróide, isto sugere que houve pelo menos dois casos em que a velocidade de rotação de Ryugu aumentou.
Os resultados deste estudo foram compilados num catálogo global de crateras de impacto. Espera-se que esta base de dados possa ser usada como suporte para investigações futuras e que a comparação destes resultados com os de um asteróide semelhante leve a um maior entendimento sobre estes objetos astronómicos.
Hayabusa2 está programada para lançar a cápsula que contém amostras da superfície de Ryugu na atmosfera da Terra no final de 2020. A análise destas amostras deverá fornecer mais informações sobre o asteróide e sobre a sua formação.
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