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O mistério daquilo que torna uma piada engraçada (mas só para algumas pessoas)

Aquilo que torna uma piada engraçada poderá depender do contexto social e temporal. Cientistas ainda tentam perceber até que ponto o nosso cérebro pode ter influência neste processo.

Acha engraçada esta piada da Suméria de 1900 a.C.? “Algo que nunca aconteceu desde o começo dos tempos: uma mulher nunca peidou no colo do marido”. Ou este clássico do Egito, de 1600 a.C.? “Como se entretém um faraó entediado? Navega-se num barco cheio de mulheres vestidas apenas com meias de rede, no Nilo, e apela-se ao faraó que pesque”.

Se não, talvez ache mais piada a esta anedota britânica de 1000 a.C.: “O que está pendurado na coxa de um homem e quer abrir o buraco que costuma ser aberto? Resposta: Uma chave”.

Nota-se que estas foram feitas para terem piada, mas elas fizeram-no rir ou sorrir? Seja humor antigo ou moderno, todos nós achamos coisas diferentes engraçadas — mas porquê? Isto deve-se ao nosso cérebro ou às maneiras pelas quais o humor funciona?

Uma constatação consistente em estudos científicos é que o riso é universal e antecede os seres humanos, enquanto o humor parece aparecer ao lado dos humanos modernos — sempre que há registo de seres humanos modernos, encontramos piadas.

É extremamente interessante que as piadas mencionadas estejam estruturadas como as piadas dos dias de hoje. Até os tópicos parecem modernos — como piadas sobre flatulência e sexo.

Estes temas também confirmam algumas das teorias científicas de piadas e humor. Por exemplo, o humor geralmente envolve a realização de incongruências entre um conceito e uma situação, quebra de tabus ou expectativas sociais, a resolução de tensão ou chacota e um sentimento de superioridade.

Contexto social

Mas, mesmo que as piadas tendam a ser estruturadas de uma certa maneira, ao longo do tempo e do lugar, nada garante que todos se riam. Parte disto acontece porque o tempo e a distância tiram às piadas o seu significado cultural.

Da mesma forma, um estudo recente, publicado na La Presse Médicale, sobre piadas contadas por médicos em França mostrou que eles geralmente baseiam-se em estereótipos bastante amplos (ou até ofensivos) — por exemplo, que cirurgiões são tiranos megalomaníacos, que anestesistas são preguiçosos e que psiquiatras são doentes mentais.

No local de trabalho, especialmente em trabalhos de stress elevado, o humor é frequentemente usado para incentivar a coesão dentro de um grupo, mas também pode excluir pessoas, que podem achar esse mesmo humor desagradável. Este último ponto é importante — a exclusão de outros pode ajudar a aumentar a coesão do grupo.

Todos fazemos parte de diferentes grupos sociais, e isso afeta a abordagem ao humor. Charlie Chaplin ainda é extremamente popular na China, enquanto no Ocidente podemos apreciá-lo artisticamente, mas nem sempre achamos que a sua comédia nos faz rir. Também não é incomum que as pessoas mais velhas considerem aquilo que os mais jovens acham engraçado, algo totalmente inexplicável.

Redes cerebrais

O facto de o humor ser baseado no vínculo social e coesão — seja provocado pelo alívio do stress ou pelo assédio moral a outros — é apoiado pela neurociência. O humor no cérebro repousa em redes muito semelhantes às que apoiam a compreensão da linguagem humana.

As áreas comuns de ativação do humor incluem os lobos temporais anteriores, que estão intimamente associados à representação do significado semântico.

Um estudo argumentou estimular uma certa região do cérebro com correntes elétricas diretas faz as piadas parecerem mais engraçadas. No entanto, como demonstrado, essas regiões também são vistas a fazer outras tarefas. Portanto, pode ser difícil dissociar o nosso sentido de humor da nossa capacidade de processar tanto o significado linguístico quanto o social.

Então, o que faz uma piada engraçada? Fizemos grandes progressos na compreensão das bases científicas do riso e do processamento de humor — mas até que possamos incorporar completamente as complexidades sociais e culturais do humor, permaneceremos confusos com a maneira como algumas pessoas podem desfrutar da comédia que achamos pouca piada.

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