Campo de hóquei da Selecção Espanhola escondia vestígios de assassinato pré-histórico

Vijande et all


Sepultura em necrópole com 6200 anos em San Fernando de Cádis, na Andaluzia, Espanha.

Um campo de hóquei onde costuma treinar a Selecção Espanhola está assente sobre uma necrópole de 6200 anos onde foram encontrados vestígios de um assassinato pré-histórico no que terá sido um dos crimes mais violentos da Península Ibérica.

Esta necrópole com 59 sepulturas encontra-se debaixo de um campo de hoquéi em San Fernando de Cádis, na Andaluzia, na vizinha Espanha. A Selecção Espanhola que costuma treinar neste campo nunca poderia imaginar esse cenário.

A maioria das sepulturas são individuais, mas os arqueólogos encontraram uma que se destaca por conter os corpos de dois homens, num espaço com dois metros de diâmetro e coberta com lajes de pedra.

A necrópole está a ajudar os arqueólogos que a estudam a conhecer melhor a sociedade de há 6 mil anos, nomeadamente as suas classes sociais, desigualdades, crenças religiosas e os conflitos da época, conforme notam no estudo publicado no International Journal of Paleopathology.

A análise aos dois cadáveres dos homens encontrados na sepultura dupla revela que as suas mortes devem ter resultado de crimes violentos, possivelmente em disputas por posses ou interesses materiais.

Um dos homens tem cerca de 30 anos e uma ferida profunda no crânio, tendo sido enterrado em posição fetal. A campa terá sido selada depois do seu enterro e novamente aberta para enterrar outro homem com cerca de 45 anos de idade e também com uma ferida de grandes dimensões no crânio.

Na sepultura, foram encontrados os vestígios mais ricos da necrópole. “Havia um colar de âmbar que, provavelmente, tinha sido trazido da Sicília, vasos de barro, cinco agulhas ósseas que poderiam ser de um tocado no cabelo e um machado de silex que, pela sua composição, poderia vir do sistema central, da região da Segóvia”, explica ao El País o arqueólogo Eduardo Vijande, da Universidade de Cádiz e co-autor do estudo.

“Estas jóias exclusivas falam-nos das primeiras desigualdades nas sociedades humanas”, acrescenta Vijande, frisando que “surgem neste exacto momento, no Neolítico, quando a invenção da agricultura e a pecuária geram as primeiras acumulações de produtos e os seus donos passam a ser os primeiros ricos, perante uma maioria com menos recursos”.

“Estes desequilíbrios geram violência“, constata o arqueólogo, frisando que os dois cadáveres podem ser fruto dos primeiros homicídios violentos da Península Ibérica.

“À parte de um caso de morte violenta de há 400.000 anos, localizado em Atapuerca entre Homo heidelbergensis, acreditamos que este é o caso mais antigo de morte violenta que se conhece na Península”, sustenta Vijande, notando que “a partir desta época, a violência generalizou-se” e que “os casos de agressões mortais, incluindo matanças, começaram a aparecer por toda a Europa”.

A análise aos restos dos crânios não permitiu a extracção de ADN e não foi assim possível apurar se os dois homens seriam parentes, nem quanto tempo terá passado entre os dois enterros.

“O que sabemos é que receberam um ritual funerário diferente do resto, com o enxoval mais valioso, e que são os únicos que revelam lesões cranianas”, frisa a antropóloga da Universidade de Granada que analisou os restos mortais, Lydia Sánchez-Barba, em declarações ao El País.

Noutros casos, foi possível extrair ADN dos vestígios dos mortos da necrópole, concluindo-se que se trata de uma população europeia, com genes maioritários de agricultores, mas com alguns vestígios genéticos de caçadores e recolectores.

ZAP //

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