Mais de mil detenções no Egito após protestos contra o Governo

Eslam Gomaa / EPA

Jovens em manifestação de protesto em Gizé contra o governo do Egipto

Mais de mil pessoas foram detidas no Egipto depois dos protestos da semana passada contra o Presidente, denunciaram esta quarta-feira duas organizações não-governamentais (ONG) egípcias de defesa dos direitos humanos.

Desde a passada sexta-feira, as autoridades egípcias detiveram manifestantes, jornalistas e ativistas políticos, segundo o Centro egípcio para as Liberdades e Direitos e o Centro para os Direitos Económicos e Sociais.

A denúncia destas duas ONG sobre estas detenções em massa surge num momento em que o empresário egípcio Mohammed Ali, radicado em Espanha e o promotor dos recentes protestos anti-governamentais, lançou um apelo para a realização de novas manifestações na próxima sexta-feira.

Entre as últimas pessoas detidas, figuram dois académicos conhecidos pelas suas posições críticas em relação ao Governo egípcio, Hazem Hosni e Hassan Nafaa, indicaram as mesmas fontes.

Detido na terça-feira à noite, Hazem Hosni, professor de ciência política na Universidade do Cairo, integrou a equipa da campanha de Sami Anan, que se apresentou como adversário de Abdel-Fatah al-Sissi nas eleições Presidenciais egípcias de março de 2018.

Antigo general e chefe do Estado-Maior, Sami Anan seria detido e preso após o anúncio da sua candidatura presidencial. Hassan Nafaa, também professor na Universidade do Cairo, foi igualmente preso na noite de terça-feira.

Dois advogados egípcios, citados pela Associated Press, avançaram que outro proeminente ativista político, Khaled Dawood, foi detido hoje pelas autoridades egípcias. Opositor político, é o ex-líder do partido liberal Al-Dustour.

Os mesmos advogados falaram em cerca de 1.200 pessoas detidas desde a passada sexta-feira. Centenas de pessoas saíram à rua em várias cidades egípcias, incluindo na capital, Cairo, pedindo a demissão do Presidente Abdel-Fatah al-Sissi. Estes protestos foram os primeiros de relevo desde 2016.

O Governo egípcio restringiu fortemente as manifestações em 2013, pouco depois de Sissi ter liderado o golpe militar que derrubou o primeiro Presidente eleito democraticamente no Egito, Mohammed Morsi, com origem na Irmandade Muçulmana, que foi, entretanto, proibida.

Erin Kirk-Cuomo / Department of Defense

Abdel Fattah al-Sisi

Desde então, as autoridades reprimiram dissidentes, detiveram milhares de militantes islamitas, assim como militantes laicos e bloggers.

Durante os protestos, as forças de segurança recorreram a gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes. Já na cidade do Suez, a polícia usou balas de borracha.

O Presidente Abdel-Fatah al-Sissi discursou esta terça-feira nas Nações Unidas, em Nova Iorque, durante o debate geral da 74.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU.

Durante o discurso, Sissi, atual Presidente da União Africana, apelou ao fim dos conflitos na Líbia, na Síria e no Iémen, mas não fez qualquer menção aos protestos ocorridos no território egípcio.

Em referência à Líbia, Sissi invocou um esforço conjunto para salvar “esse vizinho fraterno do caos das milícias” e impedir a intervenção de atores externos nos assuntos internos do país. O Presidente egípcio congratulou-se também com a formação do Comité Constitucional na Síria, anunciado pelo secretário-geral da ONU, defendendo soluções semelhantes para pôr fim ao conflito na Líbia.

Al-Sissi apelou à necessidade de “alcançar a unidade e a integridade territorial da Síria, a integridade das suas instituições, a cessação do derramamento de sangue e a eliminação total do terrorismo”. Da mesma forma, o líder político egípcio mencionou o conflito do Iémen, apoiando o “fim da interferência estrangeira que alimenta a crise”.

Durante o seu discurso, al-Sissi apelou também à luta contra o terrorismo e às suas fontes de financiamento, destacando a importância da “implementação de uma estrutura internacional abrangente para combater o discurso terrorista (…) e para defender os valores de tolerância e renovação do discurso religioso”.

Enquanto o Presidente do Egito discursava na Assembleia-Geral da ONU, cidadãos egípcios protestavam no exterior das instalações da organização internacional.

ZAP // Lusa

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