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Na era medieval, a magia era um serviço usado por ricos e pobres

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Jacob, P. L. / Wikimedia

“O Sábado: Santiago Maior a combater os diabólicos encantamentos de um mágico”. Composição de Pieter Bruegel, o Velho.

Ao contrário daquilo que se pensa, em Inglaterra, durante a era medieval, a magia não era proibida. Pelo contrário, era comercializada quase como um serviço, tanto por ricos como por pobres.

O mais provável é que, quando alguém ouve as palavras “magia medieval”, a imagem de uma bruxa vem automaticamente à cabeça: velhas enrugadas, juntas a um caldeirão com ingredientes indescritíveis. A não ser esta visão, pensa-se em pessoas brutalmente perseguidas por padres demasiado zelosos. Mas esta imagem é, na realidade, imprecisa.

Para começar, o medo da bruxaria — vender a alma de uma pessoa a demónios para causar mal a outras pessoas — foi mais um fenómeno moderno do que medieval, começando a surgir na Europa no final do século XV. Esta ideia também obscurece a visão de outras práticas mágicas na Inglaterra pré-moderna, por exemplo.

A magia é um fenómeno universal. Todas as sociedades, em todas as épocas, carregavam algum sistema de crença e, em todas as sociedades, houve quem afirmasse a capacidade de aproveitar ou manipular os poderes sobrenaturais por trás dela. Ainda hoje, a magia penetra subtilmente nas nossas vidas — alguns de nós têm rituais que usamos para exames ou entrevistas.

A Islândia tem um “encantador de elfos”, reconhecido pelo governo, que afirma ter a capacidade de ver, falar e negociar com as criaturas sobrenaturais que ainda se acredita viverem na paisagem da Islândia.

Embora hoje possamos descrever isto como imaginação ou fantasia, na era medieval a magia foi amplamente aceite como muito real. Um feitiço ou encanto podia mudar a vida de uma pessoa: às vezes para pior, como nas maldições — mas igualmente, se não mais frequentemente, para melhor.

A magia era vista como capaz de fazer uma série de coisas, das maravilhosas às surpreendentemente mundanas. Quanto a estas últimas, os feitiços eram, em muitos aspetos, pouco mais do que uma ferramenta. Eram usados para encontrar objetos perdidos, inspirar amor, prever o futuro, curar doenças e descobrir tesouros enterrados. Desta maneira, a magia forneceu soluções para os problemas do dia a dia, especialmente problemas que não podiam ser resolvidos por outros meios.

Crime de conjuração

A magia era contra a lei — e certamente a maioria das pessoas não toleraria nem acreditaria nela? A resposta é não em ambos os casos. A magia não se tornou um crime secular até aos Atos de Feitiçaria, em 1542. Antes disso, era considerada apenas uma contravenção moral e era policiada pela igreja.

E, a menos que a magia fosse usada para o mal — por exemplo, tentativa de assassinato — a igreja não estava especialmente preocupada. Muitas vezes, era simplesmente tratada como uma forma de superstição. Como a igreja não tinha autoridade para impor castigos corporais, a magia era normalmente punida com multas ou, em casos extremos, castigo público.

Isto pode parecer totalitário hoje em dia, mas essas punições eram muito mais leves do que aquelas praticadas por tribunais seculares, onde mutilação e execução eram uma opção mesmo para crimes menores. A magia foi então colocada abaixo na lista de prioridades dos agentes da lei, o que significa que poderia ser praticada com relativa liberdade.

Entre as centenas de casos de uso de magia preservados nos registos da corte eclesiástica de Inglaterra, há vários depoimentos de que os feitiços foram eficazes. Em 1375, o mágico John Chestre gabou-se de ter recuperado 15 libras para um homem.

Enquanto isso, Agnes Hancock alegou que conseguia curar pessoas abençoando as suas roupas ou, se o seu paciente fosse uma criança, consultando fadas. Embora os tribunais tenham desaprovado — ela foi condenada a interromper os feitiços ou correr o risco de ser acusada de heresia, o que era uma ofensa capital — o testemunho de Agnes mostra que os seus pacientes normalmente estavam satisfeitos. Tanto quanto se sabe, ela não voltou a comparecer perante os tribunais.

Magia por patente real

Jovens e velhos, ricos e pobres, usavam magia. Longe de ser uma reserva das classes baixas, foi encomendada por algumas pessoas muito poderosas: às vezes até pela família real. Num caso de difamação de 1390, o duque Edmund de Langley — filho de Eduardo III e tio de Ricardo II — pagou a um mágico para ajudá-lo a localizar alguns pratos de prata roubados.

Enquanto isso, havia rumores de que Alice Perrers — amante de Eduardo III no final do século XIV — contratou um frade para lançar feitiços de amor sobre o rei.

Eleanor Cobham, duquesa de Gloucester, também empregou uma mulher para fazer magia de amor em 1440-41, neste caso, para ajudar a conceber um filho. O uso da magia por Eleanor ficou fora de controlo, no entanto, quando ela foi acusada de usá-la também para planear a morte de Henrique VI.

De muitas maneiras, a magia era apenas parte da vida quotidiana: talvez não fosse algo que alguém admitisse abertamente usar já que era oficialmente vista como imoral. Um pouco como o uso de drogas hoje em dia, a magia era comum o suficiente para as pessoas saberem onde encontrá-la, e o seu uso foi silenciosamente reconhecido, apesar de não ser aprovado.

Quanto às pessoas que vendiam magia, tratavam o seu conhecimento e habilidade como uma mercadoria. Conheciam o seu valor, entendiam as expectativas dos seus clientes e viviam num espaço marginal entre serem tolerados por necessidade e evitados pelo que vendiam.

À medida que o período medieval desapareceu no início da era moderna, a crença na bruxaria diabólica cresceu e uma posição mais forte foi tomada contra a magia — tanto pelos tribunais quanto pela cultura contemporânea. O seu uso permaneceu difundido, no entanto, e ainda sobrevive na sociedade de hoje.

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