Rosa Grilo reafirma inocência. Amante nega qualquer envolvimento no crime

António Pedro Santos / Lusa

A segunda sessão do julgamento foi marcada por contradições da arguida Rosa Grilo, acusada do homicídio do marido, em coautoria com o amante.

Segundo a SIC Notícias, nesta segunda sessão do julgamento, no Tribunal de Loures, estava previsto que fossem ouvidas as primeiras dez de mais de 90 testemunhas, mas apenas Rosa Grilo e António Joaquim foram interrogados, durante quatro horas.

Os dois arguidos são acusados de homicídio qualificado de Luís Grilo, bem como profanação de cadáver e detenção de arma proibida. A acusação do Ministério Público (MP) sustenta que o triatleta foi morto para que ambos pudessem assumir a relação amorosa e beneficiarem dos seus bens: 500 mil euros em indemnizações de vários seguros, outros montantes em depósitos bancárias e a habitação.

Esta sessão do julgamento ficou marcada por contradições da arguida Rosa Grilo, na qual acrescentou novos elementos à versão inicial. A mulher afirmou que só tinha conhecimento da existência de dois dos seis seguros feitos pelo marido, sendo que só soube dos outros quatro quando foi interrogada no Tribunal de Vila Franca de Xira.

Rosa Grilo continua a afirmar que o marido foi morto devido a negócios com diamantes na casa do casal por “três indivíduos angolanos” que entraram na habitação e começaram de imediato a agredi-la.

Numa sessão em que a arguida chorou quando questionada sobre o filho menor, o procurador do MP confrontou Rosa Grilo com uma troca de mensagens ocorrida ao final dessa manhã, no dia 16 de julho de 2018, quando os três homens alegadamente se encontravam na casa.

A presidente do coletivo de juízes, Ana Clara Baptista, interveio: “Como é que a senhora me consegue explicar, perante um quadro daqueles, em que estava sequestrada, tem esta presença de espírito para estar a trocar mensagens com esta naturalidade? Quando está a ser ameaçada de morte, o seu marido amarrado, a viver um pesadelo que acaba com o assassinato do seu marido, como é que consegue manter uma conversa social?”.

A arguida, que naquele dia manteve o telemóvel na sua posse, não conseguiu dar uma resposta objetiva. “Na altura, naquele dia, não pensei em nada”, respondeu Rosa Grilo, que nesse dia também trocou dezenas de mensagens via telemóvel com António Joaquim, algumas das quais já depois de o seu marido ter sido morto.

Na sessão anterior, a arguida relatou que no dia do crime, quando saiu de casa no seu carro acompanhada de dois dos três indivíduos, se limitou a cumprimentar duas amigas que estavam num supermercado e a levantar 60 euros do multibanco. Esta terça-feira, disse não se recordar se também efetuou alguma compra.

O procurador classificou a tarde do dia do crime como o “sequestro dos três estarolas”, lembrando a versão de Rosa Grilo — a arguida afirmou que os suspeitos “se descontrolaram” ao saber que “alguém estava a caminho de casa”, aludindo ao facto de a cunhada ir entregar o filho menor do casal à residência de ambos.

O procurador questionou ainda a razão pela qual os três alegados homens saíram com o cadáver pela porta da frente de casa, embrulhado em plásticos e um saco na cabeça, quando na casa há uma garagem.

Foram eles que fizeram. Não fui eu. São formas absurdas, obrigaram-me a agir de forma absurda. Se os senhores enrolaram o Luís em plástico, se o transportaram pelo corredor, pelas escadas para a rua, não sei porque é que o fizeram. Honestamente nem sei porque é que o levaram”, respondeu a arguida.

Na primeira sessão de julgamento, Rosa Grilo contou ao tribunal de júri que foi um dos homens que disparou mortalmente sobre o marido com a arma que o próprio trazia consigo e não com a arma do arguido António Joaquim, a quem o MP atribui a autoria do disparo.

Esta terça-feira, Rosa Grilo acrescentou que este homem chegou a ter as duas armas na mão esquerda e direita, mas que no momento do disparo apenas tinha uma arma na sua mão direita. Disse não saber qual a arma que o homem utilizou: se a dele ou se a de António Joaquim, que tinha sido guardada pela arguida, sem que o arguido soubesse.

Rosa Grilo acrescentou nesta sessão que, antes de ter ido à GNR reportar o desaparecimento do marido, como lhe pediram os “angolanos”, foi procurar o cadáver.

A suspeita foi ainda questionada com o facto de “sorrir” perante determinadas perguntas que são repetidas: “Não responde sempre da mesma forma, depois acrescenta alguns aspetos e dá respostas que não são rigorosamente iguais ao que já disse”.

Quanto aos vestígios de sangue encontrados nas paredes do quarto de hóspedes, local onde o MP acredita que os arguidos mataram a vítima, Rosa Grilo referiu que talvez se devesse a “salpicos”, de quando levou para aquela divisória os sacos com as roupas ensanguentadas.

O MP confrontou ainda a arguida (proibida de contactar com António Joaquim) com uma carta apreendida pelo tribunal, enviada através da correspondência de outra detida para um preso que se encontra na mesma prisão de António Joaquim. Na missiva, Rosa Grilo pede “perdão” ao arguido e diz que tem coisas para apresentar em julgamento.

António Joaquim diz que “nada tem a ver” com a morte

Não tenho absolutamente nada a ver com o que aconteceu com o senhor Luís Grilo. Não tive, nem tenho conhecimento do que aconteceu com o senhor Luís Grilo”, afirmou o arguido perante o tribunal de júri.

O arguido afirmou ainda desconhecer que Rosa Grilo tenha levado de sua casa a arma que, segundo o MP, matou a vítima e que a arguida sabia da existência e do local onde a guardava, em sua casa.

Minutos antes de António Joaquim começar a falar, Rosa Grilo foi confrontada, já no final do seu depoimento, pelo tribunal com esta arma, usada durante a reconstituição do crime, mas a arguida negou que aquela tenha sido a arma que levou da casa do arguido.

“Pode ter sido feita a reconstituição do crime com essa arma, mas essa arma não foi a que levei da casa do António Joaquim”, sustentou Rosa Grilo, reiterando a versão por diversas vezes, depois de a presidente do coletivo de juízes repetir que “aquela foi a arma que matou” o marido, de acordo com os relatórios periciais.

Esta arma esteve em sua casa. No interior do cano foi encontrado ADN, uma gota de sangue que é do seu marido”, contrapôs a juíza presidente, mas a arguida respondeu sempre que “não foi aquela arma que levou da casa do arguido”.

Na sequência destas declarações, a defesa de António Joaquim apresentou um requerimento ao tribunal no qual põe em causa estes relatórios periciais (balística), assim como a forma como foi obtido o ADN de Luís Grilo.

À saída do Tribunal de Loures, Ricardo Serrano Vieira explicou que os relatórios da balística dão conta de que a arma do seu constituinte e que, de acordo com o MP, foi a usada para matar Luís Grilo, apresentou cinco estrias.

Nos testes realizados posteriormente, o advogado referiu que os mesmos indicaram que a arma em causa deixa uma marca de seis estrias. Além disso, o advogado questionou igualmente “o modo” como a Polícia Judiciária obteve o ADN da vítima.

Nesse sentido, Ricardo Serrano Vieira anunciou que vai apresentar uma queixa-crime contra a equipa de investigação da Polícia Judiciária por “falsificação de provas”.

O julgamento prossegue na próxima terça-feira, 24 de setembro, estando agendadas as inquirições de 20 testemunhas: dez de manhã e dez à tarde.

O corpo do triatleta foi encontrado com sinais de violência e em adiantado estado de decomposição, mais de um mês depois do seu desaparecimento, a cerca de 160 quilómetros da sua casa, na zona de Benavila, concelho de Avis, distrito de Portalegre.

Na acusação, o MP pede ainda que seja aplicada a Rosa Grilo a pena acessória da declaração de indignidade sucessória (sem direito a herança) e a António Joaquim (oficial de justiça) a pena acessória de suspensão de exercício de funções públicas.

O MP, em representação do filho menor de Rosa Grilo e do triatleta, apresentou um pedido de indemnização civil de 100 mil euros contra os arguidos.

ZAP // Lusa

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