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Um enorme navio quebra-gelo vai ficar preso (de propósito) no oceano Ártico

O navio quebra-gelo RV Polarstern vai sair da Noruega nas próximas semanas, com destino ao Ártico, para estudar nos próximos meses como as alterações climáticas estão a remodelar este oceano.

Um dos navios mais indestrutíveis do mundo — RV Polarstern — vai partir da Noruega no próximo dia 20 de setembro, em direção ao Oceano Ártico, onde ficará preso nos próximos 13 meses (de forma propositada). O quebra-gelo tem um objetivo ambicioso: determinar como as alterações climáticas estão a remodelar este oceano, escreve o Live Science.

A expedição, chamada de Multidisciplinary drifting Observatory for the Study of Arctic Climate (MOSAIC) — algo como Observatório Multidisciplinar de Deriva para o Estudo do Clima do Ártico —, está a ser planeada há anos. Com um investimento de mais de 118 milhões de euros, vai exigir a participação de mais de 600 pessoas, entre cientistas e equipa técnica.

O líder da expedição, Markus Rex, do Instituto Alfred Wegener (que opera o Polarstern), afirma que o navio vai entrar provavelmente no gelo marinho flutuante em meados de outubro e depois ficará à deriva no Ártico, cercado de gelo, até ao próximo verão, antes de voltar ao seu porto de origem em Bremerhaven, na Alemanha, no outono.

A MOSAIC vai investigar as fontes de energia ambiental envolvidas no derretimento e movimentação do gelo marinho; a formação e precipitação das nuvens do Ártico e os efeitos das transferências de calor e massa entre a atmosfera, o gelo e o oceano. Depois, as descobertas serão usadas para refinar os modelos computacionais do clima global.

Em diferentes fases da expedição, centenas de pessoas vão ser transportadas para este navio através de outros quatros quebra-gelo — a partir da Suécia, Rússia e China — e por aeronaves que vão pousar numa pista de gelo construída nas proximidades.

Ao contrário de outras expedições científicas, os cientistas vão estudar o ambiente do Ártico durante todo o seu ciclo anual de congelamento e descongelamento, desde o crescimento do gelo marinho no outono até à sua rutura no verão seguinte.

Quando o gelo for espesso o suficiente (cerca de 1,5 quilómetros de espessura), vão ser instalados acampamentos e instrumentos científicos a até 50 quilómetros do navio. As medições serão feitas até quatro mil metros abaixo da superfície e a altitudes superiores a 35 mil metros.

A nova expedição recorda a viagem realizada, no final do século XIX, pelo Fram, navio de Fridtjof Nansen. O cientista norueguês e a sua equipa de 12 elementos deixaram Tromsø, a mesma cidade de onde vai partir agora o RV Polarstern, em julho de 1893, e começaram a flutuar pelo gelo marinho em outubro, perto das Ilhas da Nova Sibéria.

Depois de andar à deriva durante quase dois anos, Nansen ficou insatisfeito com o progresso do navio, tendo decidido deixá-lo, em março de 1895, na tentativa de alcançar o Polo Norte sobre o gelo, juntamente com Hjalmar Johansen, um dos tripulantes.

Mas menos de um mês mais tarde, o frio intenso e o agravamento do clima obrigaram os dois exploradores a suspender a expedição e a passar o inverno polar na Terra de Francisco José, um arquipélago polar russo.

Nansen e Johansen acabariam por ser resgatados por outra expedição no Ártico, e o Fram permaneceu congelado até agosto de 1896, antes de voltar com a restante equipa para a Noruega.

ZAP //

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