Dentro dos ovos, embriões de aves conseguem não só ouvir as chamadas de atenção das aves adultas, como comunicar essa informação aos seus irmãos que partilham o mesmo ninho, permanecendo em segurança até que seja seguro eclodir.
Esta descoberta revela de que forma as aves se conseguem adaptar ao ambiente mesmo antes do nascimento. Ao contrário dos mamíferos placentários, a fisiologia das aves não é influenciada pelas mudanças no corpo da mãe.
Uma equipa de cientistas expôs ovos de gaivota-de-perna-amarela (Larus michahellis) a ambientes que indicam alto risco de predação. Os embriões não-eclodidos comunicaram informações aos companheiros de ninho não expostos e emergiram dos seus ovos, exibindo um comportamento muito mais cauteloso em comparação com o grupo de controlo.
“Estes resultados sugerem que os embriões de gaivotas são capazes de adquirir informações ambientais relevantes a partir dos seus irmãos“, escreveram os autores do artigo científico, publicado no dia 22 de julho na Nature Ecology & Evolution.
“Os nossos resultados evidenciam a importância da informação socialmente adquirida durante a fase pré-natal como um mecanismo não-genético que promove a plasticidade do desenvolvimento”, explicaram ainda.
Para a experiência, os cientistas recolheram ovos de gaivotas selvagens de uma colónia na ilha de Sálvora, em Espanha, que experimenta grandes flutuações nos níveis de predação, especialmente de pequenos carnívoros.
Os ovos foram divididos em ninhadas de três e colocados em incubadoras. Depois, foram escolhidos para um de dois grupos: o primeiro experimental (a amarelo) e o segundo que era o grupo de controlo (a azul).
De cada ninhada, dois dos três ovos foram removidos quatro vezes por dia da incubadora – sempre os mesmos dois ovos, representados por um tom mais escuro no gráfico – manipulados, e colocados numa caixa à prova de som onde foram reproduzidas gravações de predadores adultos, chamadas de alarme.
Os ovos do grupo de controlo não ouviram qualquer som. Posteriormente, os cientistas colocaram os ovos novamente na incubadora em contacto físico com os chamados “ovos ingénuos”.
Os ovos que foram expostos às chamadas de alarme tendem a vibrar mais na incubadora em comparação com os ovos do grupo de controlo.
As ninhadas experimentais, incluindo os “ovos ingénuos”, levaram mais tempo a eclodir do que as ninhadas do grupo de controlo. Além disso, quando eclodiram, os três filhotes mostraram as mesmas mudanças ao nível do desenvolvimento – alterações essas não observadas nos filhotes do grupo de controlo, como menos cópias do ADN mitocondrial por célula ou uma perna mais curta do que a outra.
Em comparação com os do grupo de controlo, os filhotes das ninhadas experimentais fizeram menos ruídos e agacharam-se mais – um comportamento defensivo, normalmente feito em resposta a gritos de alarme de adultos.
De acordo com análises estatísticas, as diferenças fisiológicas não podem ser atribuídas apenas ao tempo de incubação.
Como a única diferença no tratamento das ninhadas eram as chamadas de alarme, e como a única diferença observada no comportamento dos ovos era a taxa de vibração, parece provável que os filhotes não eclodidos possam comunicar perigo aos seus companheiros de ninho via vibração.
ZAP // Science Alert