O ex-presidente da República do Gâmbia, Yahya Jammeh, é acusado de violação e de coagir sexualmente várias mulheres, oferecendo-lhes dinheiro, presentes e outros privilégios, revelou um grupo internacional de direitos humanos.
“Yahya Jammeh tratou as mulheres da Gâmbia como se fossem sua propriedade pessoal”, disse na quarta-feira o advogado norte-americano Reed Brody, da Human Rights Watch (HRW), segundo noticiou o Raw Story. “Mas violação e agressão sexual são crimes, e Jammeh não está acima da lei, nem nenhuma mulher abaixo dela”, reforçou.
Yahya Jammeh governou o pequeno Estado da África Ocidental por 22 anos antes de fugir para a Guiné Equatorial, após ter perdido as eleições para o candidato da oposição, Adama Barrow, em dezembro de 2016.
Apesar de o seu regime ter sido caraterizado pela violência e corrupção, esta é a primeira vez que o abuso sexual que exerceu sobre as mulheres tem sido extensivamente e publicamente documentado, indicou o Raw Story.
A investigação, feita pela HRW e pela Organização Não-Governamental (ONG) suíça TRIAL international, tem por base declarações de várias mulheres, de oito ex-oficiais gambianos e de várias outras testemunhas.
De acordo com o relatório, o ex-Presidente tinha “meninas de protocolo”, que eram obrigadas a estar de plantão para lhe proporcionar sexo. O mesmo “escolhia a dedo mulheres jovens para satisfazer as suas fantasias sexuais”, indicou um dos principais assessores citados no documento.
Como incentivo, Yahya Jammeh oferecia-lhes presentes ou apoio às suas famílias, assim como bolsas de estudos para estudarem no exterior. As mulheres eram obrigados a viver ao lado da sua residência e impedidas de sair sem a sua autorização. Caso recusassem satisfazer às suas exigências sexuais, eram ameaçadas.
O relatório indica igualmente que essas jovens eram supervisionadas por Jimbee Jammeh, prima de Yahya Jammeh, que também procurava mulheres para o ex-Presidente. A mesma terá fugido com este para a Guiné Equatorial.
Um das queixosas é Toufah Jallow, uma estudante de teatro então com 18 anos, que venceu a edição de 2014 do principal concurso de beleza patrocinado pelo Estado. Yahya Jammeh descrevia o concurso como “um meio de empoderar as jovens”.
Ao longo de seis meses, recusou os avanços do ex-chefe de Estado, rejeitando a sua oferta para se tornar numa das “garotas do protocolo” e a sua proposta de casamento.
Contudo, quando convidada para assistir a um recital do pré-Ramadão na casa da presidência, Yahya Jammeh trancou a jovem num quarto, onde a agrediu e ameaçou, injetou-lhe um líquido e a violou, de acordo com o seu testemunho. A vítima fugiu para o Senegal dias depois.
A Gâmbia criou uma Comissão da Verdade, Reconciliação e Reparações (TRRC), baseada na Comissão de Verdade e Reconciliação da África do Sul (TRC), para lançar luz sobre o reinado de Yahya Jammeh.
“Essas mulheres admiráveis quebraram a cultura do silêncio. Agora, é crucial que o TRRC e que o Governo lhes forneçam um caminho para a justiça”, disse Marion Volkmann-Brandau, que liderou a pesquisa. “É a hora da vergonha da violação mudar de lado”.
Yahya Jammeh é também acusado de roubar centenas de milhões de dólares – uma estimativa que chega a mil milhões de dólares (cerca de 880 milhões de euros).