A organização não-governamental Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida (Anaso) considera “dramática” a situação do VIH/SIDA em Angola, referindo que a taxa de prevalência de 2% “é irreal e não reflete o estado da epidemia” no país.
A média de novas infeções nos últimos quatro anos tem sido de 28 mil, que “é um quadro dramático para um país como Angola. Associado a isso temos de olhar para as crianças os 0 aos quatro anos, cuja média de infeções rondam os 5.500”, disse esta terça-feira António Coelho, secretário-executivo da Anaso, avançou o Expresso na terça-feira, citando a agência Lusa.
Para o responsável, Angola deve declarar “guerra aberta” conta a epidemia, porque o país ainda tem uma taxa de transmissão vertical de mãe para o filho na ordem os 26%.
“E isso passa por fatores fundamentais: melhorar a liderança política, que passa pelo funcionamento da Comissão Nacional de Luta contra a Sida e Grandes Endemias, bem como pelo compromisso, porque a luta precisa de pessoas comprometidas”, disse António Coelho.
Falando aos jornalistas à margem de um ‘workshop’ sobre balanço da subvenção VIH do Fundo Global 2016-2018 a Angola, promovido em Luanda pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), referiu que o país continua a precisar de financiamento para o combate a doença.
Daí que, observou, “temos de aproveitar bem os fundos disponibilizados e, finalmente, o problema dos dados, que continuam a não ser reais: 2,0% nos últimos cinco anos não é real”.
As autoridades angolanas anunciaram na terça-feira que das cerca de 310 mil pessoas que vivem com VIH/SIDA no país, apenas 75 mil fazem o tratamento antirretroviral, manifestando-se preocupadas com a “elevada taxa de abandono de cerca de 50%”.
De acordo com o secretário de Estado para a Saúde Pública de Angola, José Vieira da Cunha, a taxa de prevalência de VIH/SIDA no país é de 2,0%, afirmando que “determinantes sociais e a crise económica impediram os progressos da expansão do diagnóstico e tratamento” da epidemia.
Contudo, o secretário executivo da Anaso considera que, nos últimos anos, “apesar dos esforços do Governo e da sociedade civil”, o quadro de combate à epidemia em Angola “não registou avanços”.
“Infelizmente estagnámos e não estamos a avançar, porque os indicadores dizem-nos que, em relação as novas infeções, somos dos poucos países em África que ainda não conseguiram inverter a situação – o número de novas infeções e de mortes continua a aumentar e temos de rapidamente trabalhar no sentido de mudar o quadro”, acrescentou.
António Coelho entende, por outro lado, que um estudo junto da população deverá mostrar um quadro “atual e real” sobre a taxa de prevalência no país. “Estou certo de que essa prevalência vai subir, porque a realidade é muito diferente, porque sentimos todos os dias que há novas infeções e mortes por VIH/SIDA”, concluiu.