Guias sherpas do Nepal recusam voltar a subir ao Evereste esta época

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Os guias nepaleses anunciaram esta terça-feira que não irão subir ao monte Evereste esta época, em homenagem aos 16 colegas que morreram na sexta-feira numa avalanche, pondo fim aos projetos de centenas de alpinistas estrangeiros.

Os ‘sherpas‘ são uma ajuda crucial a qualquer ascensão ao cume mais alto do mundo, transportando tendas e provisões, mas também reparando escadas e fixando cordas para ajudar os seus clientes a alcançar o cume, de 8.848 metros.

O governo emitiu autorizações de ascensão ao Evereste para 734 pessoas esta época, entre as quais 400 guias, para 32 expedições previstas.

Os alpinistas pagam várias dezenas de milhares de dólares por uma expedição ao mais alto cume do mundo.

“Tivemos uma longa reunião esta tarde e decidimos não voltar a subir este ano, em homenagem aos nossos irmãos. A decisão dos ‘sherpas’ é unânime”, disse um deles, Tulsi Gurung, citado pela AFP.

mountainmadness.com

O guia sherpa nepalês Tul Singh "Tulsi" Gurung

O guia sherpa nepalês Tul Singh “Tulsi” Gurung

“Alguns guias já partiram e outros ficarão cerca de uma semana, o tempo de embalar tudo e de partir”, acrescentou Gurung, irmão de uma das vítimas.

Treze ‘sherpas’ morreram na avalanche de sexta-feira e os corpos de três outros estão ainda sob a neve após o acidente mais mortífero de sempre no Evereste.

“Dezasseis pessoas morreram sob esta montanha no primeiro dia da nossa ascensão. Como podemos agora subi-la?”, disse outro ‘sherpa’, Pasang Sherpa.

Esta decisão parece antecipar as discussões em curso entre os ‘sherpas’ e o governo nepalês.

Os guias nepaleses tinham ameaçado na segunda-feira deixar de subir ao monte Evereste se as famílias dos ‘sherpas’ mortos na avalancha não recebessem apoio financeiro do governo do Nepal.

Os guias apresentaram uma lista de exigências ao governo nepalês, que deviam ser satisfeitas no prazo de sete dias. Caso este prazo não fosse respeitado, ameaçavam anular todas as expedições ao cume mais alto do mundo.

Uma das exigências é a criação de um fundo de apoio, constituído por 30% das somas pagas pelos alpinistas pelas autorizações para escalar o Evereste, e o aumento para o dobro dos prémios dos seguros de vida, atualmente de 10 mil dólares (cerca de 7.200 euros).

O governo propôs pagar 40 mil rupias (cerca de 290 euros) para as despesas fúnebres das vítimas, o que desencadeou protestos dos ‘sherpas’ por considerarem esta oferta uma falta de respeito.

Os ‘sherpas’, nome de um grupo étnico adaptado às condições de vida e altitude dos Himalaias, ganham entre três mil e seis mil dólares por época, mas os seguros de saúde não garantem uma boa cobertura.

A economia do Nepal, país pobre nos Himalaias, depende das receitas do turismo.

Mais de 300 pessoas morreram no Evereste desde que a primeira expedição, do britânico Sir Edmund Hillary e do ‘sherpa’ Tenzing Norgay, atingiu o cume da montanha, em 1953.

/Lusa

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