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Europeias: Com o PS a “malhar” no Bloco, Rangel fala em encenação eleitoral

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Miguel A. Lopes / Lusa

Na véspera do último dia de campanha para as eleições europeias, António Costa e Augusto Santos Silva deram um empurrão ao candidato do PS com discursos apontados aos parceiros de esquerda. Enquanto isso Paulo Rangel lembrou novamente o fantasma Sócrates e falou de Berardo.

Santos Silva a “malhar” na esquerda

Na recta final da campanha para as europeias, aumentaram as animosidades entre os parceiros de Governo – porque amigos, amigos, votos à parte! Depois de na quarta-feira, Marisa Matias, a cabeça de lista do Bloco de Esquerda (BE), ter acusado o PS de ter duas caras, uma cá dentro e outra na Europa, António Costa respondeu na mesma moeda.

Durante um jantar-comício em Setúbal, o secretário-geral do PS acusou o BE de estar refém do “voto de protesto”. E já em Matosinhos, noutra acção de campanha, Costa recordou que até o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, apoiado pelo Bloco, está ao lado do PS no desejo de liderar a “aliança progressista” para derrotar a extrema-direita.

A jogar em todas as frentes, Costa lembrou também o apoio de Emmanuel Macron “que está na primeira linha do combate contra a extrema-direita”.

Mas o jantar ficou marcado pelo discurso inflamado de Augusto Santos Silva, o ministro dos Negócios Estrangeiros que confessou, há tempos, que gosta de “malhar na direita”. Agora, o alvo é outro e Santos Silva fartou-se de “malhar” nos parceiros da esquerda, sem nunca falar deles, realçando que o voto no PS também é contra os “aventureirismos”.

“A extrema-direita não será derrotada com extremismos nem com conservadorismos”, realçou Santos Silva, frisando que o “voto certo” é o voto na “moderação”, ou seja, no PS.

Rangel: PS está a pôr geringonça na roda dos enjeitados

Num jantar em Oeiras, com incómodos lugares vazios e com a participação de Rui Rio, Paulo Rangel, o cabeça de lista do PSD, conseguiu meter no discurso os nomes de José Sócrates, de Joe Berardo, de Mário Centeno e de António Costa, com críticas a todos.

Começou por falar do puxão de orelhas do BCE ao Governo, no âmbito da proposta de Mário Centeno, ministro das Finanças, para a reforma do Banco de Portugal. “Era mau para o país e mau para a Europa que o PS de António Costa pudesse ter um bom resultado”, porque ataca “a imparcialidade e a independência das instituições públicas”, considerou Rangel, frisando que “o Governo do PS quer controlar o Banco de Portugal“.

O caso foi a muleta de que Rangel precisava para trazer de novo Sócrates para a campanha, notando que já no tempo dele o PS tinha “o mesmo ímpeto de controlo da banca”. E foi esse precisamente o tempo em que “o Governo do PS e os ministros do PS deram carta branca a Berardo para fazer um assalto ao BCP”, considerou ainda.

A conclusão de Rangel é muito simples, “se não querem que haja mais casos Berardo, se não querem que haja interferência e ingerência na independência e autonomia do Banco de Portugal, não podem votar no PS e em António Costa no domingo”, vincou.

Rangel também falou da tensão entre PS, Bloco e PCP, considerando que é “uma encenação eleitoral” para que os socialistas consigam “conquistar votos moderados”. “O que o PS está a fazer a pôr a geringonça na roda dos enjeitados“. Mas “depois das legislativas, se precisarem, deitam a zanga no caixote do lixo e vão à roda dos enjeitados buscar a geringonça”, realçou.

CDS lembra “a época mais sinistra da vida de Portugal”

Nuno Melo, cabeça de lista do CDS, contou com os apoios de de Assunção Cristas e de António Lobo Xavier num jantar em Vila Nova de Gaia onde a luta contra a abstenção foi o tema dominante, numa altura em que as sondagens são pouco favoráveis aos populares.

Assunção Cristas apelou aos militantes que se mobilizem contra a abstenção. “Peço que telefonem à família, aos amigos, aos colegas de trabalho, perguntem se já foi votar, ofereçam-se para ajudar aquela tia mais idosa, aquele vizinho que tem mais dificuldade”, disse.

“Somos os únicos que se apresentam ao eleitorado confortáveis consigo próprios”, sublinhou por seu lado Lobo Xavier, recuperando o fantasma de Sócrates sem falar no seu nome e apontando que o PS “esconde” a sua história para “disfarçar um convívio com a época ética e moralmente mais sinistra da vida de Portugal”.

Com a mira apontada ao PSD, Lobo Xavier referiu depois que o CDS não “procurou um recentramento artificial” nem “anda à procura de perder a alma para conseguir votos“.

Catarina avisa que “só merece crescer quem cumpre”

Num jantar-comício na sala da Alfândega do Porto, a cabeça de lista do BE abriu as hostilidades com um chavão popular para agarrar a audiência. “‘Bibó Porto, carago’”, gritou Marisa Matias no arranque de um discurso onde sobraram as indirectas ao PS.

Depois de ter sido acusada por Costa de ser um “voto de protesto”, Marisa Matias respondeu no mesmo tom. “Quem está a construir a UE está a querer dividir-nos”, disse, notando que o projecto do Bloco “é de união”. “O que nos une é o respeito, a dignidade e a justiça” e “a Europa pode ser um lugar diferente”, concluiu.

Apontando a esse “lugar diferente”, a coordenadora do Bloco, Catarina Martins, lembrou aquele que é o grande objectivo do partido para estas europeias – a eleição de três deputados. “O voto é no Bloco. É na Marisa Matias, no Zé Gusmão e no Sérgio Aires”, considerou.

Virando a mira para o PS, Catarina Martins também salientou que “só merece crescer quem cumpre”, salientando que o Bloco se mantém fiel às suas promessas.

CDU diz que não anda “ao colinho de ninguém”

Num discurso onde enalteceu a campanha feita “a pulso” pela CDU e sem “colinho de ninguém”, o secretário-geral do PCP sublinhou que foram os comunistas e “Os Verdes” a repor a esperança na actual legislatura.

“Nós fizemos uma campanha a pulso. Não tivemos favores de ninguém nem andámos ao colinho de ninguém. Foi com o nosso trabalho, usando a obra dos nossos deputados eleitos, com a convicção de que somos a força de que os trabalhadores precisam“, disse Jerónimo de Sousa num comício em Braga.

Lembrando que durante a intervenção externa da ‘troika’, “num tempo difícil em que resistir já era vencer”, foi esta “força que ali esteve na primeira brecha a lutar com os trabalhadores”. “Repusemos direitos, conseguimos conquistas” e “repusemos a esperança de que é possível uma vida melhor em Portugal”, vincou.

A anteceder o líder do PCP, o cabeça de lista João Ferreira citou Zeca Afonso, depois de ter tocado uma canção sua no palco do comício, para defender o controlo público do sector financeiro, transformando o verso de “dêem as pipas ao povo/só ele as sabe guardar” para “dêem os bancos ao povo“.

“Pode ser que se venha a estudar um ‘efeito PAN’”

Numa acção de campanha na rua, o cabeça de lista do PAN, Francisco Guerreiro, confrontado com o facto de o eleitorado do partido ter idades entre os 35 e os 40 anos, referiu que acredita que está “a ganhar também um espaço mais transversal fruto do descontentamento das pessoas que já não se revêem nos partidos tradicionais”, conforme declarações divulgadas pelo Expresso.

“Até pode ser que daqui a uns anos se venha a estudar um ‘efeito PAN’“, afiançou ainda o candidato ao lado do líder do PAN, André Silva, que considera que o seu é “o único partido fora do sistema com possibilidade de eleger um eurodeputado”. “Mas é preciso ir lá votar”, avisou.

Na véspera do fim da campanha, o candidato do PAN visitou uma estação de tratamento de resíduos sólidos e um centro de triagem no distrito de Lisboa. Para terminar a campanha está prevista uma presença na greve climática dos estudantes, no Marquês de Pombal, em Lisboa.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. Pode ser objecto de estudo o porquê de tanto fogo cruzado. A coisa parece que está feia. Se há um abrandamento brusco/significativo na economia, podemos vir a estar em sarilhos.

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