Uma nova investigação, levada a a cabo por cientistas norte-americanos, sugere que uma violenta colisão entre duas estrelas de neutrões há 4,6 milhões de anos brindou a Terra com metais preciosos. O novo estudo pode abrir portas para melhor compreender a formação e composição do Sistema Solar.
De acordo com a publicação, cujos resultados foram na passada semana publicados na revista científica especializada Nature, este evento cósmico único, que ocorreu na vizinhança do Sistema Solar, deu origem a 0,3% dos elementos mais pesados da Terra, que incluem outro, platina e urânio.
“Os resultados significam que cada um de nós encontrou o valor de uma pestana destes elementos, principalmente na forma de iodo, que é essencial para a vida”, explicou o astrofísico Imre Bartos, da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, que liderou o estudo em parceria com o especialista Szabolcs Marka, da Universidade de Columbia.
“Um anel de casamento, que expressa uma conexão humana profunda, é também uma conexão com o nosso passado cósmico ainda antes da Humanidade e da formação da Terra, com cerca de 10 miligramas daqueles que, provavelmente, se formaram há 4,6 mil milhões de anos”, acrescentou o cientista, citado em comunicado.
Bartos frisou que os “meteoritos formados no início do Sistema Solar carregam traços de isótopos radioativos” e, por isso, completou Marka, são importantes para rastrear o momento em que foram criados, uma vez que “à medida que estes isótopos se vão partindo, agem como relógios” que podem apontar para o momento da sua génese.
Para chegar a esta conclusão, Bartos e Marka compararam a composição dos meteoritos com as simulações numéricas da Via Láctea. Os astrofísicos descobriram que uma única colisão de estrelas de neutrões poderia ter ocorrido 100 milhões de anos antes da formação da Terra, na vizinhança do Sistema Solar, a cerca de 1.000 anos-luz da nuvem de gás que eventualmente formou o Sistema Solar.
A Via Láctea tem um diâmetro de 100.000 anos luz – 100 vezes a distância deste evento cósmico que ocorreu no berço da Terra. “Se um evento semelhante ocorresse hoje em dia a uma distância semelhante do Sistema Solar, a radiação resultante poderia eclipsar todo o céu noturno”, referiu Marka, ilustrando a dimensão do evento cósmico.
Os astrofísicos acreditam que a sua investigação traz novas e importantes formações sobre um fenómeno singular e importante para a história da Humanidade. “[A investigação] lança luz sobre os processos envolvidos na origem e composição do nosso Sistema Solar e irá um novo tipo de investigação em várias disciplinas, como Química, Biologia e Geologia, para resolver o quebra-cabeça cósmico”, rematou Bartos.
Apesar de a investigação fornecer novas evidências sobre o berço da Terra, ficam ainda por responder várias questões antigas. “Os nosso resultados abordam a procura fundamental da Humanidade: de onde viemos e para onde vamos? É muito difícil descrever as tremendas emoções que sentimos quando percebemos o que tínhamos encontrado e o que significa para o futuro enquanto continuámos a procurar uma explicação para o nosso lugar no Universo”, completou Marka.
Pensar num evento cósmico catastrófico como a origem de uma aliança de casamento pode parecer estranho, mas estes elementos pesados – onde se incluem, para além do ouro, o plutónio e outros elementos mais pesados do que o ferro – só podem ser fruto de um evento extremo do Cosmos.
Tal como explica o portal Live Sicence, estes elementos pesados são resultado de um processo de captura rápida de neutrões – também conhecido como processo r -, no qual um núcleo atómico aglomera-se rapidamente num grupo de neutrões livres antes que o seu núcleo tenha tempo decair radio-ativamente.
O fenómeno pode ocorrer durante dois tipos de eventos: explosões de supernovas ou colisão entre estrelas de neutrões. Apesar de os “pais” dos metais preciosos estarem há anos identificados, os cientistas continuam a dividir-se sobre qual dos dois processos é o responsável pela produção de elementos pesados no Universo.
Para já, a culpa ficará solteira.