Polícias ficaram a ver homem a ser linchado (e foi em auto-defesa)

A Polícia Nacional angolana veio defender os agentes que ficaram a assistir, sem impedir, ao linchamento popular de dois assaltantes, argumentando que os homens actuaram dentro dos padrões de segurança adequados para salvaguardar a sua própria “integridade física”.

Segundo o intendente Mateus Rodrigues, porta-voz da Polícia Nacional (PN) angolana, os agentes presentes no local do linchamento, no Distrito Urbano do Palanca, não recorreram a medidas de contenção, como disparos para o ar, para evitar um eventual confronto com a população, que se mostrava “eufórica”, e “para salvaguardar a integridade física” dos próprios polícias.

O incidente ocorreu no passado sábado, na sequência de uma tentativa de assalto a uma vendedora de divisas, Maria Benedito, de 55 anos, que foi baleada na região do abdómen. A mulher foi submetida a uma intervenção cirúrgica e está a recuperar, embora o seu estado de saúde ainda inspire cuidados.

Segundo Mateus Rodrigues, a actuação dos dois agentes foi feita com “prudência”, uma vez que estavam no local em serviço de patrulha.

Condenando a acção da população, Mateus Rodrigues explicou, por outro lado, que os dois polícias “agiram de imediato e conseguiram retirar um segundo meliante do linchamento”.

Um dos assaltantes foi morto pela população e um outro ficou ferido, encontrando-se internado numa unidade hospitalar “em estado grave”, segundo fontes médicas.

Um terceiro implicado fugiu e está a ser procurado pelas autoridades.

Todos os envolvidos, já com histórico criminal, deixaram a cadeia recentemente, depois de cumprirem penas, por envolvimento em crimes de assalto à mão armada e homicídios.

O incidente ganhou proporções por ter sido filmado com telemóveis, imagens que têm sido profusamente divulgadas nas redes sociais em Angola e que mostram alguns elementos a espancar um dos assaltantes até à morte.

No domingo, Mateus Rodrigues confirmou à agência Lusa que se tratam de “imagens reais”, em que também se observa a vendedora de divisas a ser atacada e baleada.

Noutros vídeos, vê-se um grupo de pessoas a perseguir os assaltantes, já na presença da polícia, e um dos suspeitos no chão a ser espancado pela população. A certa altura, uma das pessoas pega numa motorizada e atira-a repetidamente para cima da vítima que viria a morrer, com a polícia a tentar, em vão, repor a ordem.

Angola há muito que tem em curso uma campanha de sensibilização para motivar a população a não fazer justiça pelas próprias mãos.

No passado mês de Fevereiro, um relatório da PN revelou que, em 2018, a criminalidade em Angola registou um significativo aumento comparativamente a 2017, com um total de 72.174 crimes, 5.199 deles com recurso a arma de fogo.

Segundo as estatísticas, em 2018 foram registados mais 26.301 crimes comuns comparativamente a 2017, mas houve uma redução relativamente aos crimes económicos, situando-se nos 1.825 (ou seja, menos 545 crimes).

ZAP // Lusa

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