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Revelados os segredos do “rei” do lugar mais profundo da Terra

(dr) Shunping He

O peixe-espada Mariana – Pseudoliparis swirei -, um membro do grupo dos peixes Liparidae, é uma obra-prima da natureza.

Este animal, que atinge os 20 centímetros de comprimento, é o rei no lugar mais profundo dos oceanos: a Fossa das Marianas, no Pacífico ocidental. Vive a oito mil metros de profundidade, num local cuja pressão é comparável com aquela gerada pela Torre Eiffel apoiada no dedo do pé, escreve a ABC. Além disso, sobrevive a temperaturas muito baixas e à escassez de oxigénio e alimentos que lá existem.

Na segunda-feira, um grupo de cientistas da Academia Chinesa de Ciências publicou um artigo na revista Nature Ecology & Evolution, no qual revelou muitos dos segredos deste animal. Os investigadores realizaram o sequenciamento do material genético do peixe e identificaram vários genes fundamentais à sua sobrevivência.

Esta é a primeira vez que o genoma de um peixe destas profundidades extremas foi sequenciado, o que, segundo os autores, é crucial para entender como as espécies se adaptam para viver em ambientes tão extremos e, talvez, mais tarde, adequado para tirar proveito prático deste conhecimento.

Os autores do estudo capturaram peixes da espécie Pseudoliparis swirei a profundidades de cerca de sete mil metros na fossa das Marianas. O ADN extraído foi comparado com a de um parente próximo que vive em fossas de maré na superfície: o peixe caracol ou Liparis tanakae Tanaka.

Ambos os peixes divergiram há cerca de 20 milhões de anos. Hoje, enquanto um vive quase na superfície, o outro vive nas profundidades, caracterizadas pela escuridão, baixas temperaturas e pressões gigantescas. O peixe das profundezas tem características como uma pele transparente, um esqueleto macio e um crânio que não fecha: a ossos mais rígidas acabariam esmagados pela pressão.

Graças ao sequenciamento, os investigadores descobriram que um gene essencial no endurecimento dos ossos está inativo neste peixe. Ele perdeu várias sequências envolvidas na captura de luz, embora ainda retenha uma capacidade residual de ver.

Pelo contrário, outros genes expandiram-se. O animal desfruta de uma bateria de sequências essenciais para o metabolismo de ácidos gordos, o que permite que as células permaneçam flexíveis mesmo em profundidades enormes.

Santiago Herrera, ecologista molecular na Universidade de Lehigh, na Pensilvânia, disse que todo o conhecimento sobre a vida em profundidades extremas “é realmente revolucionário.” Além disso, como aponta Natalya Gallo, oceanógrafo da Instituição Scripps de Oceanografia em La Jolla, os cientistas podem usar ferramenta de edição genética CRISPR para explorar os desenvolvimentos mais detalhadamente.

Herrera destacou que uma das coisas mais interessantes é analisar se outros animais seguem as mesmas estratégias ou não. Tudo isso contribuirá para adquirir um conhecimento que por si só é valioso. No futuro poderá ser útil.

Todas as características peculiares do pseudoliparis swirei poderiam levar a inovações inimagináveis. Por exemplo, há décadas, uma proteína encontrada em bactérias termófilas, que vivem em ecossistemas com altas temperaturas permitiu desenvolver a PCR, uma técnica revolucionária que faz com que seja possível, de forma simples e barata, replicar genes em laboratório.

ZAP //

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