Uma grande erupção vulcânica abalou a Ilha Deceção, na Antártida, há 3.980 anos, e não 8.300, como se pensava anteriormente.
Este evento foi uma das maiores erupções no continente durante o Holoceno, os últimos 11.700 anos depois da última grande período glacial na Terra, e foi comparável em volume de rochas ejetadas à erupção do vulcão Tambora em 1815.
A erupção formou a caldeira do vulcão, um dos mais ativos na Antártida, com mais de 20 erupções registadas nos últimos 200 anos.
De acordo com um novo estudo, publicado a 22 de novembro na revista Scientific Reports, o colapso aconteceu há 3.980 anos. O esvaziamento da câmara magmática, a zona de acumulação de magma que alimentou a erupção, causou uma queda de pressão, provocando o colapso da parte superior do vulcão.
Como resultado, foi formada uma depressão entre oito e 10 quilómetros de diâmetro, o que agora dá à Ilha Deceção a sua forma de ferradura. O colapso da caldeira teria causado um evento sísmico de grande magnitude, cujos traços foram registados nos sedimentos acumulados no fundo dos lagos da Ilha Livingstone, a segunda maior das Ilhas Shetland do Sul, Antártica.
Os núcleos de sedimentos foram recuperados durante campanhas antárticas do projeto HOLOANTAR, entre 2012 e 2014. Este trabalho de campo foi conduzido e coordenado por Marc Oliva, então investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento da Universidade de Lisboa.
“O objetivo inicial do estudo era puramente climático, já que queríamos reconstruir as flutuações climáticas desta região nos últimos 11.700 anos usando diferentes indicadores paleoclimáticos naturais – proxies – encontradas nos sedimentos dos lagos da Península Byers, a cerca de 40 quilómetros ao norte da Ilha Deceção”, disse Sergi Pla, co-autor do estudo.
Mas o que foi encontrado surpreendeu os investigadores. “Análises geoquímicas e biológicas posteriores indicaram que os sedimentos tinham origem terrestre e foram depositados abruptamente no fundo do lago. Estes resultados sugeriram a ocorrência de um grande terremoto que afetou toda a área e colocou-nos na pista que, talvez, não estivéssemos a enfrentar um terremoto comum, mas um gerado pelo colapso da caldeira do vulcão da Ilha Decepção”, explicou Santiago Giralt, que também é co-autor do estudo.
A data exata da erupção foi obtida usando técnicas geoquímicas, petrológicas e paleolimnológicas aplicadas nos sedimentos de quatro lagos da Península de Byers da ilha de Livingston.
“Os registos sedimentares recuperados mostraram um padrão comum. Primeiro, as cinzas vulcânicas da erupção da Ilha Deceção, cobertas por uma camada de sedimento de quase um metro de espessura composta por material arrastado das margens dos lagos até o fundo devido ao grande terremoto e por sedimentos comuns do lago, que são caracterizados por uma alternação de argilas e musgos“, disse Giralt.
Um dos desafios foi caracterizar a origem das cinzas produzidas durante a erupção vulcânica. Para isso, as condições de pressão e temperatura dos magmas que causaram esta erupção foram calculadas usando as cinzas presentes nos núcleos de sedimentos. “Conseguimos estimar a profundidade de todas as amostras estudadas e determinar se faziam parte do mesmo magma e episódio eruptivo”, disse Antonio Álvarez Valero, investigador da Universidade de Salamanca.
O estudo também estima que a erupção tenha um Índice de Explosividade Vulcânica (que vai de 0 a 8) por volta de seis, o que possivelmente faz dele o maior episódio eruptivo do Holoceno no continente antártico.
“É muito importante ser capaz de datar este tipo de erupção para entender as mudanças climáticas causadas por erupções vulcânicas – neste caso particular, em altas latitudes austrais”, acrescentaram os autores.
A erupção pode ter tido impactos climáticos e ecológicos significativos numa grande área da região sul, embora sejam necessários mais estudos e novos dados para caracterizar precisamente quais os efeitos reais no clima deste evento eruptivo.