A primeira reconstrução virtual em 3D da caixa torácica do mais completo esqueleto de neandertal até agora encontrado – o Kebara 2 – revelou uma mecânica respiratória diferente da utilizada pelo Homo Sapiens.
Levada a cabo por uma equipa internacional de cientistas, a investigação revelou informação bastante distinta da imagem estereotipada que temos do homem das cavernas.
De acordo com a investigação, publicada esta semana na revista científica Nature, a capacidade pulmonar dos neandertais era maior do que imaginávamos, e a sua coluna era também mais estável – mas há mais novidades.
“Determinar a forma do tórax é fundamental para compreender como é que os neandertais se movem no seu ambiente porque nos dá informações sobre sua respiração e equilíbrio”, explicou Gómez-Olivencia, da Universidade do País Basco, citado pela EFE.
A análise ao Kebara 2 revelou que as costelas inferiores dos neandertais são orientadas de forma mais horizontal, levando os cientistas a acreditar que a sua respiração era mais dependente do diafragma, em comparação ao Homo Sapiens, onde quer o diafragma como a caixa torácica interferem.
Para criar este modelo virtual do tórax, os cientistas realizaram basearam-se tanto nas observações diretas do esqueleto do Kebara 2, atualmente na Universidade de Tel Aviv, em Israel, bem como em tomografias das vértebras, costelas e ossos pélvicos. Reunidos todos os elementos anatómicos, a reconstrução virtual foi feita através de um software especialmente desenhado para este fim.
Diferenças são impressionantes
De acordo com Daniel García Martínez e Markus Bastir, investigadores do Museu Nacional de Ciências Naturais e co-autores da investigação, as diferenças entre um tórax de neandertal e de um ser humano moderno são “impressionantes”.
“Nos neandertais, a posição da coluna em relação às costelas sugere uma coluna mais estável, sendo também o tórax é mais largo na parte inferior”, explicaram.
“Um tórax mais alargado na sua parte inferior e as costelas orientadas mais horizontalmente, como pode ser visto na reconstrução, sugerem que a respiração dos neandertais dependia mais do diafragma”, explicou Ella Been do Ono Academic College, em Tel Aviv, Israel.
Been acrescentou ainda que, em sentido oposto, a respiração da nossa espécie depende do diafragma, mas também da caixa torácica.
“Neste estudo, podemos ver como é que o uso de novas tecnologias e metodologias no estudo de restos fósseis fornecem novas pistas para entender espécies extintas“, acrescentou Mikel Arlegi da Universidade de Bordéus, em França.
Em comunicado, e em tom de conclusão, Patricia Kramer, da Universidade norte-americana de Washington, afirma: “Este é o culminar de 15 anos de pesquisa sobre o tórax de neandertal e esperamos que futuras análises genéticas nos deem pistas adicionais sobre a sua fisiologia respiratória.
Os neandertais eram caçadores-coletores que habitavam a Eurásia Ocidental durante mais de 200 mil anos, durante períodos glaciais e interglaciais, até se extinguirem há cerca de 40 mil anos.
ZAP // EFE / EuropaPress