A abstenção aumentou de forma galopante em Portugal, dos 8,1% em 1975 para os 44,2% nas legislativas de 2015, e a tendência está a alastrar das gerações mais jovens para a faixa dos 30 aos 44 anos.
A conclusão é de um estudo coordenado por João Cancela e Marta Vicente, feito a pedido do “think tank” Portugal Talks, sobre a abstenção e as suas causas em Portugal e que hoje é apresentado na Nova SBE (School of Business & Economics), em Carcavelos.
E fazendo uma análise e cruzamento da base de dados do Eurobarómetro e do programa “Comportamento Eleitoral dos Portugueses”, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, conclui-se ainda que existiu um “aumento progressivo” do número de portugueses que “afirma não se identificar, nem se sentir próximo de qualquer partido político”.
É, precisamente, este um dos grupos “menos propenso a participar nas eleições”.
Se nos anos 1985 e 1987, cerca de dois terços dos inquiridos no Eurobarómetro (66,6%) “afirmavam sentir-se próximos de um partido”, nos estudos pós-eleitorais mais recentes, em 2009 e 2015, “esta proporção desce para 45% e 50%, respetivamente”.
Fazendo uma comparação com outros países europeus, os investigadores concluíram que Portugal tem um nível de participação eleitoral baixa, “semelhante ao das novas democracias que emergiram do antigo espaço de influência soviética”, após a queda do muro de Berlim e da URSS.
Um dos capítulos do estudo sugere ainda que se reflita num “leque de soluções” de combate à abstenção nas eleições através do voto antecipado, presencial ou por carta.
O voto obrigatório ou a possibilidade do voto remoto via Internet são também cenários, mas pouco plausíveis para Portugal, devido a impedimentos constitucionais, acrescentam os investigadores.
“Medidas de alcance mais modesto, mas cujos efeitos podem assim ser significativos”, segundo o estudo, são o “voto antecipado por via presencial e postal, e a possibilidade de voto presencial fora do círculo de residência”.
Sugere-se também que se “dê especial atenção ao incentivo à participação eleitoral junto das camadas mais jovens da população”, em “colaboração com estruturas do sistema educativo”.
O Portugal Talks é uma iniciativa do Estoril Institute for Global Dialogue, encarregado da coordenação científica e programática das Conferências do Estoril, e tem como mentor Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais.
A apresentação do relatório é feita hoje na Nova SBE (School of Business & Economics), da Universidade Nova de Lisboa, em Carcavelos, concelho de Cascais, que inclui também um debate aberto sobre o tipo de soluções a adotar para o problema da abstenção.
// Lusa
Se a abstenção passou das classes mais jovens para as dos 30 e 40 é porque as pessoas envelheceram e mantiveram-se fiéis aos mesmos princípios… Se querem que as pessoas se interessem pela política têm de limitar legalmente a vida política a 4 anos. Assim todos os cidadãos teriam a oportunidade de contribuir politicamente para o país em dado momento das suas vidas. A realidade que se vê é estarem lá sempre os mesmos até velhinhos e até os próprios descendentes que seguem a carreira dos pais.