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Na ilha grega de Lesbos, há refugiados de 10 anos que se tentam suicidar

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Voluntários dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) contam que as condições no campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos, são tão degradantes que há até crianças de dez anos que já se tentaram suicidar.

Sobrelotação de pessoas, más condições de higiene, violência, confrontos, assédio e abuso sexual, tentativas de suicídio e morte. Foi esta a realidade encontrada pelos jornalistas da BBC no campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos.

O campo abriu em 2015 e, inicialmente, seria apenas um ponto de passagem para os migrantes ficarem alguns dias mas, na verdade, há alguns que já estão por lá há vários anos. Neste momento, contam-se mais de oito mil pessoas, quando era suposto dar refúgio a apenas duas mil.

As condições são tão degradantes que as organizações humanitárias, como é o caso dos Médicos sem Fronteiras, abandonaram o local em protesto. No entanto, as necessidades destas pessoas são tantas que a MSF já abriu uma clínica às portas do campo.

O campo de refugiados tem um cheiro a esgoto constante e, para termos noção das dificuldades, um médico da organização conta que numa tenda cabem 17 pessoas e que a mesma casa-de-banho serve 70 pessoas.

Sara Khan, uma refugiada do Afeganistão, conta à BBC que a sua família passa todo o dia na fila para conseguir comida e durante a noite estão sempre prontos para fugir, com receio dos confrontos que surgem constantemente.

Estamos sempre prontos para fugir, 24 horas por dia temos as nossas crianças preparadas. Esta violência significa que os nossos pequenos não conseguem dormir“.

Ali, um refugiado sírio que já deixou Moria, recorda que quando lá chegou com a família “já existia sectarismo e racismo, fosse entre sunitas e xiitas ou curdos, árabes e afegãos”, como se os conflitos entre grupos rebeldes sírios também já se tivessem instalado dentro daqueles portões.

Parece a guerra na Síria, mas ainda pior. Ouvimos falar de casos de violação e de assédio sexual”, afirma ainda o refugiado.

No dia em que filmaram Moria, os jornalistas da BBC contam que assistiram a várias cenas de violência entre os que estavam na fila à espera de comida. Duas pessoas foram esfaqueadas, outras sofreram ataques de pânico.

Os voluntários do MSF declaram que há muitas crianças a receberem tratamento devido a problemas de pele provocados pelas más condições de higiene ou problemas respiratórios por causa do gás lacrimogéneo lançado pela polícia para conter os confrontos.

Para além dos problemas físicos, abundam também os problemas de saúde mental. Em declarações à emissora britânica, os trabalhadores contam que já tiveram de lidar com vários casos de crianças de dez anos que se tentaram suicidar.

“É algo que vemos constantemente”, explica Luca Fontana, coordenador da MSF em Lesbos, acrescentando que já reportaram as condições do campo ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR) e ao Ministério da Saúde grego.

“Apesar de fazermos pressão para que estas crianças sejam levadas para Atenas, o mais rápido possível, isso não está a acontecer. Estas crianças continuam aqui”, critica.

Fontana, que já trabalhou em várias zonas de conflito, garante à BBC que o campo de refugiados de Moria é o pior lugar que já viu em toda a vida. “Eu nunca tinha visto o nível de sofrimento que testemunhamos aqui todos os dias”.

“Mesmo aqueles afetados pelo Ébola ainda têm esperança de sobreviver ou têm o apoio da família, da sociedade, da aldeia onde vivem, dos parentes. Aqui, a esperança foi-lhes retirada pelo sistema”.

Até julho de 2018, mais de 71 mil refugiados chegaram à Grécia pelo mar. Apenas cerca de 2.200 foram devolvidos à Turquia.

George Matthaiou, representante do Governo grego em Moria, sabe que as condições são terríveis mas atira culpas à União Europeia. “Nós não temos dinheiro. A situação económica na Grécia é conhecida. Eu quero ajudar, mas não posso fazer nada porque a UE fechou as fronteiras”, afirma.

ZAP //

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1 Comment

  1. Estes campos têm que ficar do outro lado do Mediterrâneo em países africanos e a solução não é fugirem todos de África mas obrigar os incompetentes governantes africanos a criarem condições para que os seus cidadãos tenham um mínimo de condições para lá viverem, afinal os libertadores comunistas nada lhes trouxeram de novo e de proveitoso.

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