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Vulcão indonésio pode ter ajudado a derrotar Napoleão em Waterloo

Bomann-Museum / Wikimedia

Napoleão Bonaparte, óleo de autor desconhecido (1810)

Napoleão Bonaparte pode ter sido travado pela própria natureza. Um especialista associa, em parte, a derrota do líder militar francês em Waterloo, na Bélgica, à erupção de um vulcão na Indonésia dois meses antes da batalha que iria mudar o rumo da história europeia.

Os historiadores sabem que as condições chuvosas e lamacentas ajudaram o exército aliado a derrotar o imperador francês na batalha de Waterloo, a 18 de junho de 1815.

No entanto, o especialista Matthew Genge, do Imperial College de Londres, afirma agora que estas condições climáticas foram resultado de erupção vulcânica no Monte Tambora, localizado na ilha de Sumbawa, no arquipélago da Indonésia.

De acordo com a Europa Press, o investigador descobriu que as cinzas vulcânicas eletrificadas na erupção podem gerar um “curto-circuito” na corrente elétrica da ionosfera – nível superior da atmosfera responsável pela formação das nuvens.

Dois meses antes da Batalha de Waterloo, o vulcão Monte Tambora entrou em erupção, matando cerca de 100 mil pessoas e mergulhou a Terra num “ano sem verão”, em 1816.

Genge sugere que a erupção deste vulcão “causou um curto-circuito” na ionosfera, levando a uma maior formação de nuvens, trazendo chuvas fortes para toda a Europa que acabaram por contribuir para a derrota de Napoleão.

A sua investigação, publicada nesta quarta-feira na revista Geology, mostra que as erupções vulcânicas podem lançar cinzas a alturas muito mais elevadas do que se pensava, podendo atingir 100 quilómetros acima do nível do solo.

“Até então, os geólogos acreditavam que as cinzas vulcânicas estavam presas na atmosfera mais baixa, porque as plumas vulcânicas aumentam fortemente, mas minha pesquisa mostra que as forças elétricas podem lançar cinzas para a atmosfera superior”, explicou Matthew Genge.

Um conjunto de investigações mostrou que as forças eletrostáticas podem elevar as cinzas a altitude muito mais elevadas do que a flutuação. Desta forma, Genge criou um modelo para calcular quanto subiria a cinza vulcânica carregada com cargas elétricas e, descobriu que as partículas menores poderia alcançar a ionosfera durante grande erupções.

“As plumas e as cinzas vulcânicas podem ter cargas elétricas negativas e, por isso, a pluma repele as cinzas, impulsionando-as para o topo da atmosfera. O efeito é muito semelhante à forma pela qual dois ímanes se separam e os seus polos coincidem”.

Outras erupções confirmam nova teoria

Os resultados experimentais obtidos por Matthew Genge são consistentes com os registos históricos de outras erupções. Tendo em conta que os registos meteorológicos de 1815 são escassos, o investigador estudou registos posteriores à erupção de outro vulcão indonésio em 1883, na ilha indonésia de Krakatoa.

Os dados mostraram temperaturas médias mais baixas e as chuvas reduziram quase imediatamente após o começo da erupção, e a precipitação global foi menor durante a erupção do que qualquer período anterior ou posterior.

O investigador também encontrou relatos de alterações na ionosfera logo após a erupção do monte Pinatubo em 1991, nas Filipinas, que poderá ter sido causada por cinzas com cargas elétricas provenientes do vulcão.

“Um céu excecionalmente nublado foi o suficiente para causar o colapso de um mundo”, escreveu Víctor Hugo, escritor francês, no seu romance Les Miserables sobre a Batalha de Waterloo.

Agora, e de acordo com o especialista que conduziu este estudo, estamos um passo mais perto de entender o papel do Monte de Tambora nesta batalha histórica.

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