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Autarca de Monchique alerta para perigo de erosão dos solos

Filipe Farinha / Lusa

O Presidente da Câmara de Monchique alertou, neste domingo, para o perigo de erosão dos solos na região, esperando ter uma resposta rápida por parte do Governo de forma a evitar um segundo desastre.

“Estou muito apreensivo”, disse o presidente do município, Rui André, em declarações à Lusa, referindo que irá reunir-se esta semana com entidades responsáveis na matéria para se tentar encontrar uma resposta rápida com medidas de estabilização de emergência.

Segundo o autarca, em 2016 arderam cerca de dois mil hectares e foi feita uma candidatura no valor de 600 mil euros: “Não foi recusada, mas foi feito um corte de 87%. Até agora, ainda não recebemos qualquer ajuda”, afirmou.

Face à dimensão do incêndio que deflagrou em 3 de agosto e que consumiu — segundo a autarquia – cerca de 16.700 hectares no concelho, a Câmara de Monchique espera agora um apoio “à volta dos cinco a seis milhões” de euros para este tipo de intervenção.

“Estamos no verão, mas as primeiras chuvas terão um efeito nefasto, se até lá não fizermos nada. Quer nas linhas de água, quer nas zonas de taludes temos de fazer um trabalho muito exaustivo”, vincou Rui André.

Para o autarca, caso nada seja feito, o impacto da erosão dos solos e deslizamentos de terra “será tão ou mais nefasto” do que o próprio incêndio. “Se tivermos o azar de termos chuvas muito fortes, irão retirar o coberto da terra e irá provocar uma erosão muito grande dos solos e algumas zonas poderão ficar praticamente desérticas”, alertou.

O presidente da Câmara de Monchique voltou a defender a necessidade de as autarquias terem competências na área da gestão florestal, tal como o já tinha feito aquando do incêndio de 2016.

“Num território no qual somos administradores, não temos qualquer responsabilidade em muitas áreas. A área da floresta tem sido a minha pedra de toque, ao longo dos últimos anos”, referiu.

Nesse sentido, defendeu que as câmaras deveriam ter uma palavra a dizer na gestão e no ordenamento florestal do concelho, de forma a poder “monitorizar este território”. Para Rui André, o município não pode ter apenas a capacidade de dar pareceres – que “até há pouco nem eram vinculativos” – e tem de assumir um papel mais interventivo.

Autarquia quer plano de reordenamento até dezembro

O presidente da autarquia anunciou ainda que o plano de reordenamento económico da serra de Monchique deverá estar pronto até dezembro, para ser implementado durante “seis a sete anos”, exigindo “medidas de exceção” na sua aplicação.

Este plano é “uma oportunidade de corrigir erros do passado” em matéria de ordenamento florestal, permitindo que a população viva num ambiente rural e florestal “em segurança”, sem estar a ser “constantemente” ameaçada.

O autarca social democrata sublinhou que para a implementação deste plano é necessário que a “mochila da burocracia” fique de fora, através de “medidas de exceção e de discriminação positiva”, já que esta “janela de oportunidade não dura muito tempo”.

“Neste momento as árvores vão começar a regenerar. Se não fizermos rapidamente esta intervenção, daqui a dois ou três anos não vale a pena”, sublinhou, afirmando esperar que a disponibilidade do Governo em matéria de desburocratização “não fique só pelas palavras”.

Questionado sobre se as medidas anunciadas pelo primeiro-ministro no sábado são suficientes, Rui André salientou que nenhuma “foi de exceção”, já que o Governo propôs mecanismos já existentes para compensar as pessoas que tiveram prejuízos.

“Em princípio serão suficientes, vamos ver. Desde que haja boa vontade e celeridade nos processos penso que as ferramentas que neste momento nos foram apresentadas serão suficientes. É essa a fé que tenho e é nisso que vamos acreditar”, afirmou.

O incêndio rural, combatido por mais de mil operacionais e considerado dominado na sexta-feira de manhã, deflagrou no dia 3 à tarde, em Monchique, distrito de Faro, e atingiu também o concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

Quarenta e uma pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade (uma idosa que se mantém internada em Lisboa).

ZAP // Lusa

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