Choveram diamantes extraterrestres de um planeta perdido

Mark A. Garlick / CfA

Uma análise a diamantes encontrados em fragmentos de meteoritos no Sudão revela a primeira evidência física de antigos planetas embrionários.

A 7 de outubro de 2008, um asteroide entrou na atmosfera terrestre e fragmentou-se sobre o deserto de Nubia, no Sudão. O asteroide, agora conhecido como 2008 TC3, tinha pouco mais de quatro metros de diâmetro.

O asteroide continha grandes diamantes formados a alta pressão e tratava-se de um embrião planetário, com um tamanho entre o de Mercúrio e o de Marte, que acabou destruído durante a formação do sistema solar.

A descoberta foi publicada na terça-feira na revista Nature Communications e é resultado do exame com microscopia eletrónica de transmissão por cientistas da EPFL – a Escola Politécnica Federal de Lausana, na Suíça.

Quando entrou na atmosfera terrestre, o asteroide desfez-se em múltiplos fragmentos sob o deserto. Só 50 foram recolhidos, cujo tamanho oscilava entre 1 e 10 centímetros, para uma massa total de 4,5 quilos.

Com o tempo, outros fragmentos foram reunidos e catalogados para serem estudados numa coleção chamada Almahata Sitta – a “Estação Seis”, em árabe, em referência a uma estação de comboio próxima do lugar do impacto.

Os meteoritos de Almahata Sitta são, na sua maioria, ureilites, um tipo raro de meteorito pedregoso que, em média, contém grupos de diamantes de tamanho nanométrico.

Atualmente, sabe-se que estes pequenos diamantes se podem formar de três maneiras: enormes ondas de choque de pressão provenientes de colisões de alta energia entre o “corpo principal” do meteorito e outros objetos espaciais, deposição por vapor químico, ou, finalmente, a pressão estática “normal” dentro do corpo principal, como a maioria dos diamantes na Terra.

A pergunta sem resposta, até agora, tem sido a origem planetária das ureilites no TC3 2008. Os investigadores estudaram as amostras de diamantes e concluíram que algumas dessas rochas que contêm diamantes se formaram sob pressões muito elevadas, acima de 20 gigapascais.

Isso indica que os fragmentos fizeram parte, em algum momento, de um corpo com um tamanho entre o de Mercúrio e o de Marte, o que encaixa com as caraterísticas dos protoplanetas que, segundo os modelos astronómicos, formavam o Sistema Solar nos primeiros 10 milhões de anos de existência.

“Conseguimos mostrar que esses grandes diamantes não podem ser resultado de um choque, mas sim de um crescimento que ocorreu dentro de um planeta”, destacou Philippe Gillet, um dos coautores do estudo.