O deputado foi, esta terça-feira, eleito secretário-geral do PSD, com 78% de votos favoráveis, numa eleição que decorreu no Porto, naquele que foi o primeiro Conselho Nacional na liderança de Rui Rio.
José Silvano, que já foi Presidente da Câmara de Mirandela, colheu 75 votos, num universo de 96 possíveis, o que corresponde a uma percentagem favorável de 78%, e registaram-se cinco votos nulos e 16 brancos, indicou fonte do partido.
O nome do autarca já tinha sido ratificado na Comissão Política Nacional que decorreu na última quarta-feira. Esta eleição acontece depois de, no dia 18 de março, Feliciano Barreiras Duarte ter apresentado a sua demissão do cargo.
O deputado social-democrata anunciou ao presidente do partido que a decisão de sair era “irrevogável”, isto depois de uma semana de notícias sobre irregularidades no currículo e uma alegada falsidade na morada que indicou no Parlamento.
Esta foi a primeira baixa na direção de Rui Rio e aconteceu exatamente um mês depois do Congresso em que foi empossado o novo líder, que decorreu entre 16 e 18 de fevereiro. Entretanto, logo no dia seguinte, foi anunciado como substituto o deputado e antigo autarca de Mirandela, que começou a exercer funções de imediato.
Mas, de acordo com os estatutos do PSD, competia ainda ao Conselho Nacional “eleger o substituto de qualquer dos titulares da Mesa do Congresso e da Comissão Política Nacional, com exceção do seu Presidente, no caso de vagatura do cargo ou de impedimento prolongado, sob proposta do respetivo órgão”.
A eleição ficou reservada para a noite desta terça-feira e decorreu numa unidade hoteleira no Porto, numa reunião que decorreu à porta fechada e que, segundo a TSF, ficou marcada pela falta de comparência de Santana Lopes.
O ex-adversário de Rui Rio tinha confirmado a sua presença mas, à mesma hora em que começavam os trabalhos na ‘invicta’, o ex-autarca de Lisboa apareceu na televisão a fazer comentário político. “Não foi apresentada qualquer justificação”, confirmou Paulo Mota Pinto, presidente do Conselho Nacional, citado pela rádio.
No balanço deste Conselho Nacional, o presidente destacou que se tratou de “um debate bastante participado do qual resultou, em geral, a manifestação de clara unidade em torno da estratégia que tem vindo a ser seguida pelo partido”.
Uma estratégia de ataque ao Governo que, segundo a TSF passa por três áreas: a “degradação” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a preparação da época de incêndios e o negócio entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Montepio.
Esta manifestação de unidade também foi percetível nas declarações de Luís Montenegro em entrevista à Lusa um dia antes de deixar o Parlamento. O ex-líder parlamentar do PSD assegurou que o seu desejo é que o presidente do partido seja primeiro-ministro em 2019, considerando que é “um erro colossal” colocar a hipótese de este não terminar o mandato.
“O meu desejo é ver Rui Rio como primeiro-ministro”
Em entrevista à Lusa, Montenegro deixou várias propostas que gostaria que o PSD colocasse na sua agenda política, como um referendo à eutanásia, o regresso ao tema da natalidade e, a médio prazo, a revisão da Constituição.
“Toda a normalidade vai imperar na vida interna do PSD, agora não vamos pensar todos a mesma coisa sobre todas as matérias, isso só no PCP é que acontece“, afirmou.
O ex-líder parlamentar salienta o caráter plural do PSD, onde “há diferenças de opiniões”, mas onde estão todos concentrados no mesmo objetivo: “Criar condições para ver o nosso líder, o nosso projeto, o nosso partido, ganhar as eleições”.
“O meu desejo é ver o dr. Rui Rio primeiro-ministro dentro de um ano e meio”, declara.
Questionado se pode vir a ser um ‘rioísta’, Montenegro preferiu definir-se como um “’PSDista’ desde sempre”.
“Estive sempre ao lado dos líderes, mesmo com aqueles com os quais concordava menos (…) Nunca deixei de ser leal e solidário com todas as lideranças e é isso que farei com esta, não há nenhuma razão para não ser assim, nenhuma mesmo”, sublinhou.
Depois de no último Congresso, que se realizou em meados de fevereiro, ter manifestado abertura para se candidatar à liderança se o PSD precisar de si no futuro, Montenegro considera que essa necessidade não se irá manifestar antes de 2019.
“Não, o dr. Rui Rio vai completar o seu mandato, vai afirmar a sua liderança projetando-a nos momentos eleitorais, quer as regionais da Madeira – onde a responsabilidade é mais da estrutura regional – quer, sobretudo, nas europeias e nas legislativas”, afirmou.
Dizendo que seria “um erro colossal colocar sequer a hipótese” de Rio não chegar às eleições, Montenegro defendeu que o PSD tem “razões fundadas” para se constituir como uma alternativa.
Por um lado, o antigo líder parlamentar defende que a atual governação tem “grandes erros e omissões”, como a ausência de reformas, sustentando que o país continua a viver da “herança do percurso económico feito entre 2013 e 2015”.
“Os socialistas, os comunistas, os bloquistas deitam muitos foguetes, fazem muita festa, mas no final destes quatro anos vamos concluir que esta foi uma legislatura perdida, do ‘deixa andar’, de gestão diária do dossiês políticos e da sobrevivência dos três partidos que compõem a maioria parlamentar”, criticou.
Sobre os temas em que o PSD poderá afirmar as suas diferenças em relação ao PS, Luís Montenegro apontou as questões demográficas – salientando que os resultados da natalidade já pioraram com o atual Governo -, o envelhecimento ativo ou uma maior adequação às necessidades do mercado de trabalho, quer pela qualificação quer pela atração de mão-de-obra imigrante.
“O dr. Rui Rio terá agora de começar a afirmar as ideias que lançou na campanha interna. Não se pode antecipar a campanha eleitoral mas também não se pode deixar um vazio programático que possa ser ocupado por outro partido”, afirmou.
Tal como já defendeu numa reunião do grupo parlamentar, o ainda deputado gostaria de ver a bancada do PSD propor um referendo à eutanásia e uma comissão de inquérito ao caso das alegadas adoções ilegais envolvendo a Igreja Universal do Reino de Deus.
Apesar de as matérias de reforma do sistema político terem feito sempre parte das suas prioridades, Montenegro reconhece que neste momento não há condições para avançar devido à “intransigência do PS” mas gostaria que o PSD colocasse em cima da mesa, no quadro do diálogo com o Governo e os socialistas, o tema da revisão constitucional.
“Não faria disso uma prioridade, mas, numa atitude prospetiva de médio e longo prazo, mais tarde ou mais cedo teremos de esbarrar nessa discussão. Quanto mais tempo a adiarmos, pior para o país”, alertou.
ZAP // Lusa