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Encontradas 81 aldeias “perdidas” na Amazónia

Imagens de satélite revelaram a existência de 81 aldeias “perdidas” numa extensão de 1800km no Brasil. A descoberta desconstrói a ideia de que a Amazónia era uma floresta “intacta”.

Ao contrário do que se pensava até agora, a Amazónia foi um lugar de grande atividade humana e a casa de cerca de um milhão de pessoas, há 800 anos. Arqueólogos descobriram provas da existência de 81 aldeias na Amazónia.

Antigamente, pensava-se que as comunidades tinham ocupado as zonas perto dos rios – as zonas mais afastadas continuavam, assim, por explorar. No entanto, novas provas mostram agora que existiram dezenas de aldeias na floresta tropical, longe dos rios, que acolheram diferentes comunidades, que, por sua vez, falavam vários idiomas.

Segundo o estudo, intitulado “Pre-Colombian earth-builders settled along the entire southern rim of the Amazon”, publicado esta terça-feira na Nature Communications, revela que essas comunidades influenciaram de forma significativa a floresta da Amazónia, nomeadamente através da agricultura e das suas vivências próprias.

Além disso, o artigo acrescenta que estas populações já existiam bem antes da chegada dos europeus. “Concluímos que os interflúvios e afluentes menores do Sul da Amazónia mantinham elevadas densidades populacionais, exigindo uma reavaliação do papel desta região nos desenvolvimentos culturais e no impacto ambiental na era pré-colombiana”, período temporal anterior à colonização europeia, lê-se na publicação.

Vilarejos, fortificações, objetos de cerâmica, machados de pedra e geóglifos foram encontrados por arqueólogos da Universidade de Exeter no estado brasileiro de Mato Grosso, levando à conclusão de que um trecho de 1800 quilómetros na margem sul da Amazónia foi ocupados por comunidades entre 1250 e 1500, explica o Público.

O geóglifo é uma figura geométrica de grandes dimensões, cuja perceção normalmente só é possível a partir de cima, e feita geralmente com rochas de cor diferente ou com desbaste de vegetação ou de material geológico.

O estudo mostra que há cerca de 1300 geóglifos no Sul da Amazónia, mas agora foram encontrados apenas 81. Além disso, as imagens de satélite mostram que a terraplanagem, movimentação do solo para a construção de caminhos, estradas e plataformas terrestres, aconteceu durante períodos de seca.

Apesar de neste período ser possível proceder a uma desflorestação, as secas não comprometiam a fertilidade do solo, pelo que os agricultores podiam cultivar e plantar árvores de fruto.

Nature Cummunications

Vários geóglifos e caminhos construídos na era pré-colombiana.

“Existe uma ideia errada comum de que a Amazónia é uma paisagem intacta, lar de comunidades nómadas dispersas. Algumas das populações que se encontravam longe dos principais rios eram muitos maiores do que se pensava anteriormente e essas pessoas tiveram um impacto no ambiente que ainda hoje podemos verificar”, disse o investigador Jonas Gregorio de Souza, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Exeter.

Este estudo chama ainda a atenção para a importância da Amazónia na biodiversidade e regulação do clima na Terra, pelo que ter isso em conta “é fundamental para tomar decisões políticas conscientes” sobre a sustentabilidade das florestas tropicais no futuro, lê-se no artigo científico.

Embora a maior parte da Amazónia ainda não tenha sido estudada, são trabalhos como este que significam “significam que estamos gradualmente a juntar mais e mais informações sobre a história da maior floresta tropical do planeta”, concluiu José Iriarte, da Universidade de Exeter e membro da equipa.

ZAP //

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