A teoria da evolução sugere que as espécies que se reproduzem de forma assexuada tendem a desaparecer rapidamente. No entanto, um estudo sobre as molinésias da Amazónia lançou sérias dúvidas sobre a velocidade deste declínio.
A reprodução sexuada depende de células especiais reprodutivas masculinas e femininas que se juntam durante o processo de fertilização. Cada célula sexual contém metade do número de cromossomas das células parentais normais.
No caso da reprodução assexuada, o macho é dispensado e são criados novos descendentes que contêm uma cópia exata do genoma da mãe – uma autêntica clonagem materna natural. Ao não desperdiçar material genético na criação de machos, todos os descendentes nascidos a partir da reprodução assexuada podem continuar a reproduzir-se.
Contudo, como os descendentes são cópias genéticas da mãe, apresentam uma variabilidade – a característica que dá aos sexuados a capacidade de diluir mutações nocivas ao longo do tempo, por exemplo – limitada.
O professor Manfred Schartl, da Universidade de Würzburg, e um dos principais autores do estudo explica que “se previa que uma espécie assexuada acumulasse mutações, dado que não depende da diversidade genética para reagir a novos parasitas ou fazer face a mudanças no meio ambiente”.
Por essa razão, “havia previsões teóricas de que um organismo assexuado iria desaparecer depois de 20 mil gerações“, afirma. No entanto, o último estudo sobre a estabilidade a longo prazo do genoma das molinésias da Amazónia, publicado recentemente na Nature Ecology & Evolution, lançou novas descobertas surpreendentes acerca da reprodução assexuada.
Os cientistas acreditam que o peixe molinésia da Amazónia (Poecilia formosa) seja um híbrido que surgiu após a reprodução entre duas espécies de peixes aparentados – a molinésia do Atlântico e a molinésia de Sailfin.
Comparando as sequências do genoma dos peixes molinésia da Amazónia com os recolhidos de diferentes locais (como o México ou o Estado do Texas, nos EUA) a equipa de investigadores conseguiu construir uma árvore genealógica.
A árvore mostrou que todos os peixes compartilharam o mesmo antepassado e que o peixe progenitor nadou em águas americanas, há cerca de 100 mil anos. Isto significa que a molinésia da Amazónia sobrevive há cerca de meio milhão de gerações – muito além do que a teoria sugeria.
Além disso, quando os cientistas procuraram indícios de decadência genómica a longo prazo, chegaram à conclusão de que havia muito poucos.
“Normalmente, as espécies sem recombinação regular não são muito duradouras. No entanto, a molinésia amazónica parece ter encontrado uma maneira de sobreviver por um tempo surpreendentemente longo, sem acumular sinais de decomposição genómica”, explicou Laurence Loewe, à BBC.
“Para descobrir como é possível, teremos provavelmente de combinar muitos dos grandes avanços na genética evolutiva dos últimos 100 anos”, concluiu o professor assistente no Instituto para a Descoberta de Wisconsin, da Universidade de Wisconsin-Madison.
ZAP // BBC