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Cidade do Cabo pode ficar sem água dentro de 90 dias

Numa bacia geológica por baixo da Montanha da Mesa e historicamente alimentada por forte precipitação no inverno, a capital sul africana tem sido conhecida como um paraíso de abundante água natural. Mas isso pode estar prestes a mudar.

Apesar de todo o registo histórico associado à Cidade do Cabo, esta pode ser a primeira cidade do mundo este ano a ficar sem água.

Uma seca de três anos na região à volta da Cidade do Cabo tem originado níveis perigosamente baixos de abastecimento de água nas barragens. Os especialistas previram que a cidade chegará ao “dia zero”, o dia que marca um ponto em que as barragens caem para menos de 13,5% da sua capacidade combinada, a 21 de abril.

Se isso acontecer, todo o abastecimento de água municipal que não seja de emergência será desligado, à exceção de nos bairros mais desfavorecidos. Os residentes terão que fornecer-se a partir de um dos 200 pontos de recolha disponíveis.

Cada residente terá acesso a 6,6 galões de água (o equivalente a pouco menos de 25 litros) por dia, um limite que se fará cumprir com a ajuda de guardas armados encarregues de manter a paz.

Por agora, a cidade trabalha em projetos de reciclagem de água e na construção de três plantas de dessalinização, que esperam ter finalizado em março. Está imposto também o limite de 23 galões diários por pessoa (87 litros).

A Time Magazine reporta que a seca da Cidade do Cabo levou a um atraso de ordens para tanques de armazenamento de água, e, de acordo com a publicação, “o cabelo por lavar é agora um símbolo de cidadania na vertical” naquela cidade.

Num movimento controverso, a Cidade do Cabo tem até produzido um mapa de monitorização de água ao vivo que mostra quanta água as propriedades estão a usar para incentivar – ou envergonhar – os bons hábitos de cada um.

“O benefício potencial de poupança de água para todos os indicadores da Cidade do Cabo publicamente disponíveis supera quaisquer problemas de privacidade nesta fase de crise”, indica Zara Nicholson, porta-voz da Presidente Patricia de Lille.

“Esta ferramenta de modificação de comportamento tenta reconhecer quem já poupa e encoraja os que ainda não o fazem”. Se a situação causada pela seca da Cidade do Cabo lhe parece o início de uma distopia ao estilo Mad Max, não está sozinho.

Os habitantes da região já expressaram o seu medo com a crise que está à porta. Alguns deles protestaram contra o que acreditam ter sido uma falha do governo da Cidade do Cabo, tudo isto no meio de um crescente escândalo de corrupção que preocupa a cidade.

A seca da Cidade do Cabo está aí para nos relembrar que esta não é uma preocupação do futuro – é antes uma realidade do nosso presente, a acontecer neste exato momento.

Como em todos os eventos climáticos, é difícil culpar a Cidade do Cabo apenas pela nossa dependência em combustíveis fósseis. As alterações climáticas não são assim tão simples. No entanto, neste caso, as análises mostram que a seca regional da Cidade do Cabo foi piorada pelas ações humanas.

As probabilidades de seca extrema estão a aumentar na região do Cabo Ocidental em geral. Enquanto que os anos chuvosos e com neve vão continuar a acontecer, a área tende a ficar seca e sempre mais propensa à seca.

As tendências de clima locais certamente estão relacionadas com isso, mas também estão o aumento das temperaturas globais e as mudanças nos padrões de tempo.

Os investigadores perceberam que ambientes secos e mais quentes estão a tornar-se mais comuns por todo o mundo. Um estudo prevê que 74% da população será ameaçada por perigosas ondas de calor até ao final do século, e nós poderíamos ver temperaturas de verão recorde todos os anos até 2030.

Em 2015, o satélite de dados da NASA descobriu que um terço dos reservatórios globais de água subterrânea foram excessivamente stressados pelo uso humano, sugerindo um desfecho sombrio, caso não haja uma política de utilização de água mais consciente.

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