De um modo geral, é mais fácil comer quando o nosso almoço não está tentar matar-nos. Este não costuma ser um problema no reino animal, já que a presa tende a estar morta quando chega ao esófago, mas nem todas as criaturas são inofensivas após a morte: um exemplo disso são os polvos.
Os tentáculos dos polvos permanecem letais durante algum tempo depois de serem separados da cabeça – e não são apenas pequenos espasmos. Dois terços dos neurónios dos polvos estão nos tentáculos e, mesmo depois de estar morto, o molusco usa esses neurónios para escapar de qualquer coisa que esteja a tentar devorá-lo.
E, como os golfinhos gostam de comer uns saborosos e viscosos polvos às refeições, acabam por correr um grande risco de morte – portanto tentam incapacitar o molusco.
Mas, como um jantar ideal não termina com asfixia, os golfinhos aprenderam um truque: para sobreviverem a esta batalha, espancam os polvos antes de os engolirem.
Almoço violento
A investigadora de mamíferos marinhos Kate Sprogis e outros cientistas da Universidade Murdoch, na Austrália, passaram seis anos a observar golfinhos ao largo da costa da Austrália Ocidental. Os especialistas publicaram recentemente as suas descobertas na revista “Marine Mammal Science”.
De acordo com os especialistas, alguns golfinhos também colocam esponjas redondas nos seus narizes para que possam escavar na areia à procura de peixes que estejam enterrados, sem se magoarem.
Mas com os polvos a história é diferente. Os golfinhos têm duas táticas básicas para abordar esta refeição perigosa: uma delas é segurar o polvo com a boca, nadar para fora da água e depois mergulhar rapidamente para fazer com que o corpo do polvo fique esmagado.
Outra estratégia consiste em atirar o polvo para a água com muita força. A recompensa por estes truques é uma refeição repleta de proteínas, o que aparentemente compensa toda a energia usada para desarmar o jantar.
Prática recorrente
E, na verdade, esta é uma estratégia muito comum no oceano. As baleias assassinas, por exemplo, alimentam-se de grandes animais como leões marinhos, baleias beluga, raias e até mesmo golfinhos, e ganharam este apelido ameaçador por serem conhecidas por espancar as suas presas.
As focas fazem a mesma coisa com outros animais menores (e a foca-leopardo também o faz com os filhotes de outras focas). Crocodilos e jacarés têm um “movimento giratório da morte” que usam para despedaçar as suas presas.
Os humanos têm uma abordagem diferente. Várias culturas cozinham o polvo, mas isso não acontece em todos os lugares. Os coreanos comem os moluscos crus e semi-vivos.
A sannakji é uma maneira coreana de preparar polvo que envolve cortar os tentáculos do animal vivo ou até mesmo comer um minúsculo polvo inteiro de uma só vez. Algumas pessoas morrem sufocadas porque os tentáculos ainda se conseguem movimentar e tentam rastejar para fora de garganta.
ZAP // Hypescience