França proíbe manifestação sindical pela primeira vez desde 1958

Jeremy Lempin / EPA

Manifestantes em Paris, França, em confrontos com a polícia anti-motim na sequência de protestos contra a lei El Khomri

O Governo francês proibiu esta quarta-feira uma manifestação sindical contra a reforma da legislação laboral marcada para quinta-feira em Paris, argumentando que pretende evitar a repetição de atos de violência.

Trata-se da primeira vez que uma manifestação organizada por sindicatos é proibida desde 1958 e acontece depois de sete estruturas sindicais terem recusado a proposta das autoridades, que pretendiam uma concentração sem a realização de um desfile de protesto pelas ruas da capital.

“Considero que não há outra escolha a não ser a interdição da manifestação”, disse o representante da Prefeitura de Paris, através de um comunicado.

Entretanto, dirigentes das centrais sindicais da CGT e FO criticaram o facto de o Ministério do Interior ter aceitado de forma imediata a decisão da Prefeitura da capital francesa.

A interdição imposta aos sindicatos sobre a manifestação de quinta-feira foi considerada “um erro histórico” pelo deputado socialista Christian Paul, que se tem mostrado frontalmente contra a legislação laboral que o próprio Governo do Partido Socialista quer aprovar.

“Eu considero, e estou a ser muito cuidadoso com as minhas palavras, que é um erro histórico. É a primeira vez, desde 1958, que um Governo – um primeiro-ministro – proíbe uma manifestação organizada por centrais sindicais”, disse Christian Paul à agência noticiosa France Presse.

Logo após o anúncio da interdição, Jean-Claude Mailly, dirigente da CGT, acusou o chefe do executivo Manuel Valls de não respeitar o diálogo com os trabalhadores.

“É um primeiro-ministro fechado no seu próprio autoritarismo”, acusou Mailly, acrescentando que a interdição faz com que a França se venha a juntar ao grupo de países que não respeitam a democracia.

“Manuel Valls é intransigente, ele não quer discutir” nem o texto sobre o protesto nem sequer o percurso da manifestação, disse o líder da central sindical FO, referindo-se ao que considerou o “aumento de um autoritarismo inacreditável” por parte do Governo.

Reforma laboral

Os sindicatos contestam, desde março, o projeto de reforma da lei laboral, que, segundo afirmam, vai transformar o desemprego num “problema endémico”, em França.

Os detratores da proposta governamental, que é apresentada como favorável à flexibilização do mercado laboral, encaram a nova lei como um instrumento “demasiado liberal” e que vai promover ainda mais a precariedade salarial no país.

Dezenas de manifestações têm sido organizadas desde março em várias cidades francesas, algumas das quais marcadas por confrontos com a polícia.

A interdição imposta contra a manifestação que foi agendada para quinta-feira pelos sindicatos está a agitar a atualidade política francesa.

Mais de 130 mil pessoas assinaram nas últimas horas uma petição que foi difundida através da Internet e que tem como título: “Eu não vou respeitar a proibição de me manifestar”.

Apesar do que possa acontecer na quinta-feira em Paris, os sindicatos já convocaram outro protesto para a próxima terça-feira, dia 28 de junho, na capital.

/Lusa

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