Uma equipa de investigadores elaborou um mapa das minhocas existentes na Europa. O ZAP falou com o investigador português que participou no projecto europeu e que explica como este mapeamento pode ajudar à sobrevivência humana.
Este mapa com a distribuição geográfica das minhocas pelos solos europeus foi elaborado com base em dados de oito países, incluindo Portugal.
José Paulo Sousa, professor no Departamento de Zoologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, participou neste projecto e conta ao ZAP aquilo que está na base deste mapeamento, relevando o papel das minhocas na “importância da biodiversidade em termos da manutenção dos chamados serviços de ecossistema, que são prestados pelo ambiente, mas que são importantes para a sobrevivência da espécie humana“.
Engenheiros do ecossistema
O investigador, que integra vários grupos de trabalho europeus e que se tem dedicado ao estudo da ecologia dos solos, nota que as minhocas, a par das formigas, são dos “organismos mais emblemáticos e mais importantes” em termos do solo. E não é à toa que estes pequenos seres são “denominados engenheiros do ecossistema”.
“São capazes de modificar o solo onde vivem e torná-lo mais habitável para uma série de outras espécies e, portanto, torná-lo mais biodiverso”, explica ao ZAP José Paulo Sousa, que também é investigador no IMAR – Instituto do Mar, Centro do Mar e Ambiente.
As minhocas são “actores principais” no âmbito dos chamados processos biológicos do solo, nomeadamente “em termos do incremento da matéria orgânica, da manutenção da capacidade do solo reter água e evitar fenómenos de erosão”, de “provocar a degradação de compostos poluentes” e de enriquecer o solo com nutrientes, conforme explica o professor da UC.
Evidenciando que há diferentes tipos de minhocas, com funções distintas, José Paulo Sousa afiança que, “se soubermos o que é que cada grupo morfológico faz, podemos tentar perceber melhor qual será o papel delas em diferentes regiões”.
Há minhocas endémicas da Península Ibérica
O mapa resulta da compilação de registos de 3.838 localizações em oito países europeus, entre os quais Portugal, Espanha, França, Irlanda e Alemanha, conforme se evidencia no artigo publicado no jornal Applied Soil Ecology.
Todavia, o território português aparece em branco neste mapa, pois não existe no nosso país “um levantamento tão exaustivo como existe para outros países”, havendo apenas “dados esporádicos” e faltando uma recolha “sistematizada”, nota o investigador.
Futuramente, novos dados serão publicados e a expectativa é de poder dar cor ao mapa no solo nacional.
Está também previsto prosseguir a recolha de dados em termos da totalidade da Península Ibérica que tem algumas minhocas endémicas, que não se encontram em mais lado nenhum na Europa.
Colocar o solo no mapa da política
Para lá do “objectivo científico”, este mapa de minhocas também tem um lado “pedagógico” no sentido de valorizar a importância da biodiversidade e da conservação do solo, frisa o professor da UC.
É que estas temáticas não têm estado “na linha da frente das preocupações ambientais”, nem políticas, não só em Portugal, mas também a nível europeu, salienta José Paulo Sousa.
“O solo começa a aparecer agora como preocupação”, pois surge a “necessidade de preservar o funcionamento dos ecossistemas porque eles providenciam serviços que são úteis para nós”, destaca o investigador.
Mas “não há uma visão integrada do problema“, acrescenta, sublinhando que há apenas, legislação “muito espartilhada” e condicionada por “lóbis e interesses económicos”.
SV, ZAP
E será do Bloco de Esquerda?