83 mortos, 850 mil afetados, milhares à espera de resgate. Desespero nas cheias do Brasil

Isaac Fontana/Lusa

Moradores do bairro Farrapos recebem ajuda para evacuar suas casas após as inundações em Porto Alegre.

Familiares e voluntários mobilizam-se na procura por desaparecidos e no resgate de pessoas isoladas pelas inundações. Mais de 850 mil foram afetados até agora.

De Brasília, Cláudia Lisboa ajuda o genro a localizar a sua tia-avó, Maria Amenaide, residente em Guaíba, no Rio Grande do Sul, estado assolado pelas inundações. Neste domingo, completaram-se 24 horas sem que a família tivesse notícias da idosa de 84 anos, que toma medicação controlada e é surda.

“Ela estava com a cuidadora no momento do resgate, mas deixaram o cão, Obama, para trás. A cuidadora foi para um local e ela para outro. Suspeitamos que ela tenha voltado [a casa] para ir buscar o cão”, conta Lisboa à DW.

Regina Oliveira passou os últimos dois dias à procura do pai, Pedro Paulo, de 93 anos, desaparecido em Canoas. De Novo Hamburgo, a cerca de 30 quilómetros de distância, os familiares de Silva procuram informações e mobilizam quem podem, já que as pontes que ligam as duas cidades estão fechadas devido às inundações.

Na cidade, a Proteção Civil usa todos os canais possíveis para pedir aos moradores que evacuem e levem os animais de estimação na fuga. Impotente perante a catástrofe, a câmara municipal pede ajuda a voluntários que possuam barco para retirar quem está isolado.

À espera do resgate

Há inúmeros pedidos de resgate vindos de várias cidades inundadas.

Da capital Porto Alegre, Renata Rodrigues pede socorro para o casal de idosos Jane  e Charles. Estão em Farrapos, bairro humilde à margem do rio Jacuí, e relatam que a água chegou ao segundo andar da casa.

“São familiares do meu colega de trabalho. Estamos numa força-tarefa não só por eles, mas por vários na região. Tirámos cerca de 150 pessoas dali“, afirma Rodrigues à DW.

O bairro onde mora, Bom Fim, não foi afetado pela inundação, mas a casa transformou-se em abrigo para amigos que perderam tudo. “Neste exato momento estou a organizar-me para ir ao abrigo que estou a ajudar a organizar para ver o que faremos hoje”, diz Rodrigues.

Em Eldorado do Sul, um casal e duas crianças usam o que resta de bateria no telemóvel para enviar pedidos de socorro. Bruna Karpinski é amiga deles, e espera que sejam resgatados em breve, diz à DW.

Tragédia instalada

A Proteção Civil Nacional calcula que existam pelo menos 2,5 mil solicitações de resgate. Segundo o boletim mais recente do órgão, 341 municípios no estado foram afetados pelas chuvas extremas.

São mais de 115 mil pessoas desalojadas, temporariamente abrigadas junto a amigos ou familiares, e outras mais de 18 mil estão em abrigos provisórios organizados pelo poder público.

Até agora, 83 mortes foram confirmadas e 105 pessoas estão desaparecidas. Ao todo, estima-se que mais de 844 mil habitantes no Rio Grande do Sul tenham sido impactados.

A concessionária local informou que, até à manhã de domingo, havia 421 mil domicílios sem eletricidade. A maior parte foi desligada da rede por segurança devido a áreas alagadas.

Nas próximas horas, prevê-se pouca precipitação. A situação hidrológica, de movimentação das águas, seguirá crítica na Grande Porto Alegre.

Portugal solidário com o Brasil

O Governo português manifestou esta segunda-feira solidariedade às autoridade brasileiras por causa das inundações no estado do Rio Grande do Sul.

“O Governo está solidário com o povo brasileiro neste momento de enorme dificuldade causado pelas terríveis cheias no estado do Rio Grande do Sul”, escreveu o gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, numa mensagem na conta oficial na rede social X (antigo Twitter).

Na mesma mensagem, o governo português apresentou ao Presidente Lula da Silva e ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, condolências, manifestando “todo o apoio” de Portugal.

ZAP // DW / Lusa

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