O ar condicionado é dos maiores contra-sensos do verão

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O ar condicionado é mesmo a melhor solução para responder às subidas das temperatura? Esta “solução” pode aumentar as temperaturas urbanas até +3°C nos períodos quentes. Prefere “morrer da doença ou morrer da cura”?

A Terra bateu em junho um novo recorde mensal de calor, pelo 13.º mês consecutivo.

Quando as temperaturas exteriores sobem, muitas vezes, o ar condicionado é solução.

Como escreve o The Conversation, para combater o sobreaquecimento, utilizamos cada vez mais aparelhos de ar condicionado no interior dos edifícios.

A nível mundial, o número de unidades instaladas mais do que duplicou desde 1990, e a tendência para a instalação destes sistemas está a aumentar constantemente. Nos veículos, a tendência é semelhante.

No entanto, como diz o ditado, “a emenda pode ser pior que o soneto”.

Um aparelho de ar condicionado é um sistema que retira calor de uma zona (interior) e o liberta para outra (exterior). Para fazer esta transferência, o aparelho consome outra forma de energia: a eletricidade.

Ou seja, a quantidade de calor libertada para o exterior é igual à soma do calor libertada pelos dispositivos com a eletricidade consumida.

O que, ao fim ao cabo, vai aquecer mais o ambiente exterior. Este impacto é particularmente notório nas zonas urbanas, que já são penalizadas no verão pelo efeito de ilha de calor.

A quantidade de calor libertada para o exterior pelos aparelhos de ar condicionado é, de facto, superior à quantidade retirada do interior dos edifícios.

Este calor adicional contribui para o balanço energético da região: em zonas com um elevado nível de ar condicionado, as temperaturas já estão a subir cerca de 0,5°C, precisamente devido a esta perda de calor.

Ciclo vicioso de calor

As projeções climáticas que simulam o aumento esperado da taxa de instalação de ar condicionado mostram que o ar condicionado poderia aumentar as temperaturas urbanas até +3°C nos períodos quentes.

Mais uma vez, isto significaria uma maior necessidade de ar condicionado para combater o aumento da ilha de calor.

Como explica o The Conversation, em condições climáticas mais quentes, os aparelhos de ar condicionado são menos eficientes e, por conseguinte, consomem mais eletricidade e emanam ainda mais calor para o exterior, continuando a alimentar o círculo vicioso acima descrito.

Emissões de fluidos frigorigéneos

A juntar a tudo o supradito, o funcionamento desses dispositivos é possível graças à utilização de um fluido – chamado refrigerante – que circula no aparelho de ar condicionado, com a função de tirar calor de uma zona e libertá-lo noutra.

Num ciclo ideal, este fluido circula num circuito no sistema e, por conseguinte, não tem qualquer efeito sobre o ambiente. Na realidade, porém, dois fenómenos podem provocar a descarga principal destes fluidos para o exterior:

  • Em primeiro lugar, as fugas acumulam-se ao longo de toda a vida do sistema: são relativamente mais significativas no caso dos aparelhos de ar condicionado para veículos do que no caso dos aparelhos de ar condicionado fixos em edifícios, devido às vibrações a que o sistema está sujeito nos veículos.
  • Em segundo lugar, o fim de vida do sistema, que, se for mal gerido, pode resultar na libertação do fluido no ambiente. É essencial que estes sistemas sejam desmontados por profissionais formados que possam recuperar o fluido para tratamento adequado.

Além disso, os fluidos frigorigéneos são gases com efeitos de estufa relativamente potentes (por exemplo, o fluido frigorigéneo R32, um dos fluidos frigorigéneos mais utilizados atualmente, tem um poder de aquecimento global 675 vezes superior ao do CO₂).

Em 2027, 2,9% das emissões globais de gases com efeitos de estufa dever-se-ão a emissões diretas (fugas) de fluidos frigorigéneos.

“Morrer da doença ou morrer da cura”?

De um lado, os aparelhos de ar condicionado são úteis que podem salvar vidas, e a sua necessidade tende a aumentar à medida que as vagas de calor se tornam mais frequentes e mais intensas.

Por outro lado, não podemos esquecer que estas tecnologias são também um fator de aumento do aquecimento global, pelo que devem ser utilizados de forma judiciosa e moderada, sob pena de contribuírem para agravar o problema.

Mas uma coisa é certa: quanto mais ar condicionado houver, mais a temperatura sobe. Portanto, será o ar condicionado mesmo a melhor solução?

6 Comments

  1. Caros, uma correção no conteúdo da notícia.

    Neste paragrafo:

    O que, ao fim ao babo, vai aquecer mais o ambiente exterior. Este impacto é particularmente notório nas zonas urbanas, que já são penalizadas no verão pelo efeito de ilha de calor.

    Há um erro de transcrição, em vez de “babo”, deve ser “cabo”.

  2. Meus caros, na foto vē-se uma floresta de Compressores. Cada um está ligado ao aparelho que estä no interior, (de nome evaporador), por uma tubagem com gás que ao ser comprimido produz frio.
    Isto é para dizer que o calor que o compressor faz, NÅO SAI DO INTERIOR DAS CASAS mas sim, é provocado pela compressåo do gás ! Quando acabarem com as centrais a CARVÃO, nós desligamos os A.C. e Obrigado!

  3. Caríssimos,no prédio aonde eu moro está instalado no terceiro andar o ar condicionado,acontece que as duas caixas do respetivo ar fixadas na parede invadem os terraços com um pó negro,a minha pergunta é,isto fãs mal á saúde? O que devo fazer.

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