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“Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story”, capa do documentário Netflix
É difícil provar o impacto de duas séries da Netflix inspiradas no notório caso de duplo homicídio — mas aumentaram claramente o escrutínio público sobre a decisão judicial que há mais de três décadas condenou Erik e Lyle Menendez a prisão perpétua pela morte dos pais.
Quando o documentário “Menendez Brothers: Misjudged?” foi transmitido em 2022 na Discovery+, o seu impacto não foi imediato — exceto no TikTok, onde era difícil determinar se as pessoas falavam do caso por causa do programa ou porque uma osmose cultural geral tinha trazido o tema à ribalta.
Erik e Lyle Menendez mataram os pais em 1989, quando tinham 18 e 21 anos. Na altura, alegaram uma infância de abuso sexual, psicológico e físico por parte do pai, que a mãe conhecia mas não agia, diz a colunista Zoe Williams num artigo de opinião publicado no The Guardian.
O juiz não permitiu o que então chamou “desculpa de abuso“, e a acusação conseguiu impor o argumento de que os dois irmãos tinham assassinado os pais pela herança. O julgamento resultou numa sentença de penas de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.
No ano passado, dois anos depois do documentário da Discovery, a Netflix lançou a dramatização “Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story“, seguida de um documentário, “The Menendez Brothers“, com depoimentos de Erik e Lyle a partir do estabelecimento prisional de Donovan.
Os dois documentários dividiram a opinião pública.
Muitos sentiram que, se os irmãos fossem julgados hoje, com a nossa compreensão atual do abuso e como este pode afetar o cérebro e o comportamento, as suas penas teriam sido muito menos severas.
Outros consideram que, dada a riqueza da família, cujo património estava então avaliado em cerca de 12,5 milhões de euros, o dinheiro era provavelmente o verdadeiro motivo, e que as únicas pessoas que poderiam contestar as acusações de abuso estavam mortas.
Esta semana, um juiz da Califórnia reduziu a pena para 50 anos até perpétua, o que torna os dois irmãos imediatamente elegíveis para liberdade condicional, uma vez que os crimes ocorreram antes de terem 25 anos.
O juiz justificou a sua decisão não como uma avaliação post-hoc sobre a credibilidade das alegações de abuso, mas porque os dois irmãos, que entretanto assumiram “total responsabilidade” pelos assassinatos, fizeram o suficiente nos últimos 35 anos para merecer uma oportunidade de liberdade“.
A interação entre o drama true-crime e o processo judicial é simultaneamente muito subtil e incrivelmente pronunciada, considera Zoe Williams.
Os documentários dramatizados que se tornaram populares nas plataformas de streaming, sejam baseados em factos reais ou apenas verosímeis, influencia os constantemente resultados de processos judicias, diz a colunista do The Guardian — e ficamos sempre surpreendidos como se fosse a primeira vez.
Em última análise, nenhum dos documentários sobre os Menendez provou o motivo do crime, e nenhum levou diretamente à possibilidade de liberdade condicional. Será que a oportunidade de falar e ser ouvido na Netflix permitiu aos irmãos eventualmente expressar o remorso que o juiz considerou decisivo?
Isso é difícil de provar. Mas os documentários dramatizados, no seu melhor, fomentam a curiosidade por assuntos que estão supostamente encerrados, a empatia pelos supostamente piores, e lembra-nos a todos que as pessoas não devem ser completamente esquecidas, seja qual for o seu crime.
Estes documentários são um complemento à lei, não uma pedra no sapato da Justiça, conclui Zoe Williams.