O que são as 12 mãos direitas cortadas há 3 mil anos num antigo palácio Hyksos?

Gresky, J. et al. / Nature

Segundo um novo estudo, as doze mãos decepadas encontradas em 2011 num antigo palácio egípcio foram provavelmente cortadas a inimigos e trocadas por ouro, numa cerimónia conhecida como “Ouro da Honra”.

Em 2011, uma equipa de arqueólogos encontrou, soterradas num antigo palácio egípcio, 12 mãos direitas que terão sido cortadas há cerca de 3.600 anos. O significado do achado é um mistério.

Um novo estudo, publicado na revista Nature no fim de março, sugere agora que as mãos direitas decepadas foram trocadas por ouro — na que será a evidência física mais antiga de uma prática conhecida como “Ouro da Honra“.

As mãos foram descobertas na cidade de Avaris do antigo Egipto — atualmente Tell el-Dab’a. Estavam sepultadas em três valas, no pátio da sala do trono de um palácio Hyksos, dinastia que reinou no Egipto entre 1638 e 1530 a.C.

A partir de uma análise osteológica das mãos, os investigadores concluíram que pelo menos 11 delas pertenciam a homens. A 12ª mão poderá ter pertencido a uma mulher, mas não foi possível determinar com exatidão o género do indivíduo que a perdeu.

Os autores do estudo concluíram que nenhum dos ossos apresentava sinais de envelhecimento e pertenceriam provavelmente a adultos com 14 a 21 anos, mas não conseguiram determinar se as vítimas estavam mortas ou vivas na altura em que as mãos foram cortadas.

No momento em que as mãos foram sepultadas no antigo palácio, a região era governada pelos Hyksos — cujo nome significa “governantes estrangeiros” em egípcio antigo.

Este povo de origem semítica invadiu o Egito em meados do século XVII a.C. e governou o país durante quase 150 anos. Por volta de 1550 a.C., foram expulsos pelo faraó Amósis I, o primeiro rei da XVIII dinastia egípcia, que inaugura o Novo Império, um dos períodos mais famosos da história do Antigo Egipto.

Os investigadores acreditam que estes restos humanos são a primeira evidência física conhecida do chamado Ouro de Honra — uma cerimónia descrita nos arquivos antigos do Egito, na qual guerreiros trocavam as mãos direitas cortadas a inimigos por um colar de pérolas de ouro.

As vítimas eram geralmente homens em idade de combate. A possível presença de uma mão feminina não é, no entanto, uma surpresa.

“Naquela altura, na região, as mulheres estavam intimamente ligadas às esferas políticas, sociais e religiosas”, explicou ao Live Science a autora principal do estudo, Julia Gresky. “Portanto, não podemos excluir que a 12ª mão possa ter pertencido a uma mulher”.

Estes restos eram provavelmente considerados troféus e entregues numa cerimónia pública no palácio. “É provável que tenham sido cortados perto do local, porque ainda estavam em muito boas condições quando foram enterrados”, diz Gresky, investigadora do Instituto Arqueológico Alemão, em Berlim.

Os autores do estudo sugerem que terão sido os Hyksos a introduzir esta prática no Egito — que outros governantes egípcios terão adotado mais tarde. De fato, não existe nenhuma evidência egípcia dessa prática anterior ao período Hyksos.

Durante o seu reinado, os Hyksos introduziram novas tecnologias e hábitos culturais no Egito, como o uso do arco composto, o fabrico de vidro colorido e a suinicultura. Em contrapartida, adotaram também alguns rituais e conhecimentos egípcios — como a famosa arte da mumificação.

Armando Batista, ZAP //

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