100 euros ao coveiro por urna da avó dá processo

Jan Glas / Flickr

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Um homem confessou hoje em tribunal ter pago 100 euros a um coveiro para que lhe entregasse a urna da avó, a qual guardou em casa quase quatro meses, para, alegadamente, reclamar uma indemnização à Junta de Freguesia de Alverca.

O arguido e a companheira são suspeitos de subornarem o coveiro para que este trocasse a urna de uma familiar com a de outra pessoa, com o objectivo de pedir uma indemnização à Junta de Freguesia de Alverca, concelho de Vila Franca de Xira, por erro dos serviços.

O homem e a mulher, de 31 e 28 anos, respectivamente, estão acusados pelo Ministério Público (MP) de corrupção activa e de profanação de cadáver, enquanto o coveiro, de 54 anos, responde por corrupção passiva e co-autoria na profanação de cadáver.

Na primeira sessão de julgamento, que decorre no Tribunal de Vila Franca de Xira, o arguido, sem nunca mencionar a questão da suposta indemnização a reclamar à Junta, disse que praticou os factos para “demonstrar que era possível qualquer pessoa retirar as ossadas do cemitério sem qualquer controlo”.

O arguido referiu que, em 2009, a mesma urna da avó desapareceu algumas semanas e ninguém da Junta de Freguesia lhe deu uma justificação. O processo deste episódio foi arquivado, mas decorre ainda uma acção cível contra a autarquia nos tribunais administrativos por “danos morais”.

O homem afirmou que a sua companheira – que não quis prestar declarações – “nunca soube” das suas intenções, as quais passavam apenas por levar a urna com as ossadas da avó para a sua casa. Acrescentou que a ideia de colocar outra urna nesse ossário foi do coveiro, a quem deu, por iniciativa própria, 100 euros, classificando esse seu ato de “generoso”.

Coveiro assume ter recebido o dinheiro

O coveiro – que regressou ao trabalho depois de suspenso quatro meses pela Junta – assumiu hoje ter recebido os 100 euros, mas disse que foi enganado pelo outro arguido.

“O que ficou combinado é que ele só levava os ossos. No dia em que era para levar os ossos, acabou também por querer levar a urna. Ele enganou-me”, sublinhou o coveiro que, à saída do Tribunal de Vila Franca de Xira disse aos jornalistas que aceitou o dinheiro por “necessidade”, uma vez que ia de férias.

Hoje foi ainda inquirida uma funcionária da Junta de Freguesia de Alverca, a qual confirmou que a advogada do arguido enviou, em Setembro de 2011, um fax a solicitar uma reunião com a Junta. Segundo a técnica, no encontro, que aconteceu no início de Novembro, a advogada – a mesma que defende o arguido em julgamento – pediu uma indemnização à autarquia para que houvesse um entendimento e não se avançasse para tribunal, proposta recusada pela Junta de Freguesia.

A próxima sessão ficou agendada para as 09h15 de 11 de Abril.

Segundo o despacho de acusação, a que a agência Lusa teve acesso, em Julho de 2011, o casal terá pago “100 euros” ao coveiro para que entregasse “uma urna com uma ossada completa, não identificada e considerada abandonada”. De seguida, o arguido “dirigiu-se ao ossário da avó e trocou a urna da familiar pela que tinha sido entregue pelo coveiro”.

O neto levou depois a urna com as ossadas da avó na bagageira do carro para casa. De acordo com o MP, o casal “manteve a urna na despensa da habitação durante quase quatro meses”.

O casal foi detido pelas autoridades a 26 de Novembro de 2011, quando tentava devolver a urna ao cemitério de Alverca.

/Lusa

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