Uma equipa de cientistas está intrigada com o mural de mais de 120 imagens de antigos barcos egípcios que descobriu a adornar o interior de uma construção que acolheu uma barca funerária em Abidos, no Egipto.
As escavações que arrancaram no local, em 2014, permitiram detectar “um extenso altar” com as “ilustrações de 120 naves faraónicas” numa construção de há mais de 3.800 anos, localizada perto do túmulo do Faraó Senusret III, conforme destaca o artigo publicado no International Journal of Nautical Archaeology.
O painel de desenhos encontra-se numa “edificação subterrânea, abobadada, preparada especialmente” para acolher o enterro de um pequeno barco que data do reino de Senusret III, por volta de 1850 a.C..
A equipa de arqueólogos liderada por Josef Wegner, curador do Museu Penn da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, só encontrou “restos” de algumas tábuas desta barca funerária, mas isso bastou-lhe para concluir que teria “20 metros de comprimento”.
A prática egípcia de enterrar barcos próximo dos túmulos dos faraós é já conhecida pelos historiadores e Wegner admite no artigo científico que a barca de Abidos “pode ter pertencido a um grupo de naves funerárias reais associadas com o túmulo adjacente de Senusret III”.
O grande mistério persiste agora, à volta de quem é que desenhou o mural e porquê.
Para já, não é possível “responder conclusivamente” a estas dúvidas, considera Josef Wegner, em declarações citadas pelo Live Science.
A imagem mais pequena tem apenas 10 centímetros de comprimento e as maiores têm quase 1,5 metros de comprimento.
As de maior dimensão apresentam detalhes como “mastros, velas, cordame, cabines, lemes, remos e nalguns casos remadores”, refere Wegner no artigo científico.
O cientista acredita também que os desenhos foram feitos por várias pessoas dentro de um determinado período de tempo.
Podem ter sido elaborados pelas mesmas pessoas que construíram o barco ou por um grupo de pessoas que participavam numa cerimónia fúnebre, depois da morte de Senusret III, refere Wegner.
Os arqueólogos conseguiram descobrir que houve indivíduos a entrarem no edifício algures depois da morte do Faraó, desfazendo o barco para aproveitar as tábuas, pelo que os desenhos podem também ter sido feitos nessa altura.
A par do mural de imagens, foi ainda descoberto um depósito de 145 vasilhas de cerâmica que podem ter sido colocadas no local no âmbito de um “enterro cerimonial”, afiança Wegner no artigo científico.
Ele explica que os vasos podem ter sido usados para verter líquido no chão, “provavelmente água” como uma “forma de fazer flutuar magicamente o barco”.
Os arqueólogos não afastam a possibilidade de o barco poder ter sido arrastado pelo deserto até Abidos, pelo que a “água e outros líquidos podem ter sido usados para lubrificar e solidificar o solo, ao longo do caminho do barco, à medida que foi puxado da planície inundada até ao seu lugar de descanso”, afiança Wegner.
Neste caso, “os vasos cerâmicos usados na viagem podem eles próprios ter participado num ritual significante e tanto o barco como os frascos foram depois, enterrados juntos como objectos de internamento cerimoniais associados com os ritos mortuários reais”, conclui o arqueólogo.
SV, ZAP