Durante uma visita a Kherson, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, anunciou que estamos perante “o início do fim da guerra”.
“Por trás de si está o rio Dniepre e eles [russos] estão do lado de lá, muito perto. Podia ter feito este discurso no gabinete do Presidente, mas está aqui. Porque é tão importante para si?”, perguntou um jornalista a Zelenskyy durante a visita.
Com humor, respondeu: “E as melancias de Kherson?”, fazendo referência ao fruto típico daquela região do sul.
“Toda a gente corre riscos. Os militares arriscam, os jornalistas arriscam. Precisamos mostrar apoio aos residentes de Kherson, não fazer apenas promessas, mas que estamos de facto de regresso, a içar a nossa bandeira. E quero receber as emoções e a energias desta gente, é importante e motivador”, acabou por dizer, numa viagem em que anunciou “o início do fim da guerra”.
Como notou o Diário de Notícias, a visita de Zelensky coincidiu com a primeira caravana de ajuda humanitária a chegar à cidade, que não tem luz nem água. O chefe de Estado presidiu à cerimónia de hastear da bandeira ucraniana junto do edifício do governo regional. “Passo a passo, estamos a chegar a todo o país”, disse
“É um caminho longo e difícil, porque a guerra levou os melhores heróis do nosso país. Estamos prontos para a paz, mas paz para todo o nosso país, todo o nosso território”, declarou o líder ucraniano.
O conselheiro de Zelenskyy, Mikhailo Podolyak, disse que o “inverno, as peculiaridades climáticas, a campanha de informação sobre uma solução diplomática como uma capitulação oculta, as lamúrias intermináveis da Federação Russa sobre negociações e a necessidade de fazer uma pausa não têm qualquer efeito sobre o programa de desocupação da Ucrânia”.
Relatos não confirmados dão conta de que os ucranianos atravessaram o Dniepre em dois pontos: na península de Kinburn, o extremo mais ocidental da margem esquerda do rio, e a cidade de Oleshky, na margem oposta à cidade de Kherson.
No leste, as forças ucranianas retomaram 12 localidades na região de Luhansk, enquanto os ocupantes estarão na iminência de repetir a retirada de Kherson – usando os civis como escudos – em Kreminna, Severodonetsk e Rubizhne, disseram os militares ucranianos. Em contracorrente, os russos disseram que as suas forças capturaram a aldeia de Pavlivka, em Donetsk.
Acordo de exportação de cereais
Zelenskyy defendeu junto dos líderes do G20 que o acordo de exportação de cereais ucranianos, que expira na sexta-feira, deve ser prorrogado indefinidamente.
“A nossa iniciativa de exportação de cereais merece ser prolongada indefinidamente”, disse numa reunião por videoconferência à porta fechada antes da cimeira de Bali, noticiou a agência AFP.
Zelenskyy propôs também que o acordo negociado pela Turquia em julho, que possibilitou a exportação de cerca de 10 milhões de toneladas de cereais, fosse alargado a mais dois portos ucranianos.
O governante sustentou ainda que “é tempo” de acabar com a guerra “destrutiva” da Rússia. “Estou convencido de que chegou o momento, que a guerra destrutiva da Rússia deve e pode ser travada”, afirmou.
Por outro lado, denunciou as “ameaças loucas da Rússia de utilizar armas nucleares”, sublinhando que não pode haver “nenhuma desculpa para a chantagem nuclear”, dirigindo-se aos “G19”, excluindo Moscovo.
O Presidente da Indonésia, Joko Widodo, apelou também ao fim da guerra na Ucrânia, durante a abertura da cimeira do G20, que reúne na ilha de Bali as principais economias do mundo.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, é a grande ausência do maior encontro de líderes mundiais desde o início da pandemia de covid-19.
Esta é a primeira cimeira do G20 desde que começou a guerra na Ucrânia e a falta de consenso entre os participantes poderá refletir-se na declaração final conjunta, como aconteceu na cimeira da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), realizada no domingo, em Phnom Penh, capital do Camboja.
Apesar de a Ucrânia não integrar o G20, Zelenskyy foi convidado por Joko Widodo, presidente em exercício do grupo, a discursar por videoconferência.
Em conjunto, o G20 representa 60% da população mundial, 80% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 75% das exportações em todo o mundo, segundo dados da presidência indonésia do grupo.
Rússia destruiu central elétrica em Kherson
A empresa nacional ucraniana Ukrenergo afirmou na segunda-feira que a Rússia destruiu uma central elétrica fundamental em Kherson antes da retirada.
“A central energética que fornecia eletricidade a toda a margem direita da região de Kherson e a uma parte significativa da região de Mykolaiv está praticamente destruída”, escreveu o presidente da Ukrenergo, Volodymyr Kudrytsky, no Facebook, acrescentando que foi uma das “consequências do medo impotente dos ocupantes antes da sua fuga”, na semana passada.
“A maior parte da região libertada de Kherson está sem eletricidade desde 6 de novembro [e] estamos a fazer o melhor que podemos para fornecer eletricidade às pessoas assim que possível”, prosseguiu o responsável.
Kudrytsky indicou ainda: “A Ucrânia transmitiu a lista dos equipamentos de que a região de Kherson necessita aos nossos aliados internacionais [e] a Polónia e França já responderam”.