/

Traga a bicicleta que 200 portugueses dão comida, cama e um duche quente

DR warmshowers.org

-

“Há realmente pessoas boas no mundo”, diz Laura Cavalcante, uma testemunha de que os viajantes em bicicleta têm comida, cama e um duche quente através da Warmshowers (duches quentes), rede que em Portugal tem mais de 200 anfitriões inscritos.

Quem ‘mora’ virtualmente na Warmshowers.org tem como único objetivo “deliciar-se a conhecer pessoas novas, interessantes, a partilhar histórias” nos seus endereços reais, acrescenta a portuguesa Laura, atualmente nos Estados Unidos e a planear em fevereiro rumar à América do Sul, usando a rede mundial de hospitalidade gratuita.

Em conversa com veteranos de viagens em bicicleta, a portuguesa conheceu os WS e adianta que “a confiança entre as pessoas nesta comunidade é quase um dado adquirido”.

Ao contrário de Laura, Ana está como anfitriã ativa e no pequeno apartamento que partilha com o namorado e a cadela Mutthilda já recebeu uma dinamarquesa, um austríaco e uma alemã e o desejo é continuar a mostrar a cidade a outros “guests”.

Na sua apresentação na página dos WS, Ana faz a lista do que os hóspedes podem usufruir como cozinha, espaço para guardar as bicicletas ou a distância até uma oficina.

A comunidade funciona através de voluntariado e Gonçalo Pais é o tradutor do site para a língua portuguesa. Partindo do mais popular ‘couchsurfing’ (navegar no sofá), o tradutor explica que os WS é também uma “rede de partilha de estadias e experiências entre viajantes”, mas com foco no uso da bicicleta.

Da comunidade já guarda na memória cozinhados dos hóspedes e dos locais em Lisboa que lhes foram revelados pelos visitantes e faz um resumo do que ganhou: “sobram sempre boas conversas, dicas para viagens e grandes amizades”.

A morar em Lisboa, o alemão Simon Angerer conheceu o WS através de ciclistas espanhóis numa viagem por Marrocos e tem dado estadia também para apostar no seu objetivo de um negócio ligado a bicicletas: “a comunidade é uma opção para conhecer ciclistas e perceber as suas necessidades, ter experiências e fazer alguma promoção.

“Isto soa brusco e capitalista, mas bem, é a vida”, diz, de forma pragmática.

Uma comunidade com 53 membros

Outro voluntário é o norte-americano Louis Melini, que trata das relações públicas do ‘site’ e conta que a comunidade, criada nos anos 90, teve um verdadeiro crescimento em 2009.

“No meu caso, juntei-me a uma comunidade, em 1977, chamada Diretório de Hospitalidade de CicloTurista, ao responder a um anúncio numa revista”, e aproveitou as estadias oferecidas por várias famílias. Agora soma 25.000 quilómetros percorridos em bicicleta e o conhecimento da utilidade de alguém oferecer estadia.

Atualmente a rede soma 53 mil membros e 31.400 estão ativamente a receber pessoas. Em Portugal há 228 membros inscritos, enquanto nos Estados Unidos da América (EUA) chegam a 17 mil.

Nos EUA há o conceito “pay it forward” (favores em cadeia), que passa por fazer bem agora para receber depois, lembra ainda Louis.

Sendo um “amante de tudo o que diga respeito a ‘bikes'”, José Faustino percebeu que existia a WS depois de ver uma reportagem sobre uma viagem de duas enfermeiras entre Londres e Lisboa e está registado desde há pouco mais que cinco semanas.

Quatro dias depois de ser um WS, recebeu um trompetista argentino que está a completar em quatro meses os 3.200 quilómetros entre Portugal e a Holanda e pouco depois seguiu-se a guarida a um casal de franceses, que viajam com os filhos de 4 e 2 anos, durante 1 ano.

E por aqui passou uma senhora norte-americana, de 76 anos, no passado dia 17, de nome Ethel Macdonald, que “pretende passar o todo o tempo possível passear de bicicleta pelo mundo fora”, como relata José, que um dia destes também se quer fazer à estrada.

/Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.