Tiago Petinga / Lusa

D. José Tolentino de Mendonça
O próximo Papa pode mesmo ser Tolentino de Mendonça ou será o poeta madeirense demasiado moderno para ocupar o lugar de Francisco?
A morte do Papa Francisco parou o mundo, mas o Conclave começa a decidir no próximo mês quem será o seu sucessor. Entre mais de 1300 milhões de fiéis de todo o mundo, por cá, um poeta madeirense salta à vista dos católicos entre os mais “papáveis”.
O cardeal português D. José Tolentino de Mendonça surge em praticamente todas as listas dos 10 mais prováveis sucessores de Francisco. Será que, depois de Pedro Hispano, que foi João XXI há 748 anos, teremos novamente um Papa português?
Quem é Tolentino, o “cardeal poeta”?
Arlindo Homem / Agência Ecclesia

José Tolentino Mendonça
Atualmente com 59 anos e prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação no Vaticano, foi o Papa Francisco que fez Tolentino de Mendonça cardeal, em 2019. “Tu és a poesia”, disse-lhe Francisco na ocasião — o momento que deu o título de “cardeal poeta” a Tolentino em Roma.
Seis anos passados, o madeirense é o cardeal português mais próximo da cúpula do Vaticano e de longe o nome português mais forte entre quatro cardeais portugueses com direito de voto no conclave agendado para o próximo mês (face aos outros três, o conhecido pelo público português, Américo Aguiar, Manuel Clemente e António Marto).
Tolentino de Mendonça já ocupou o lugar do Papa Francisco numa missa, quando este foi internado para tratamento de uma bronquite. Já em dezembro, o cardeal surgia entre os favoritos para suceder a Francisco, entre 22 papáveis — os cardeais considerados com reais hipóteses de serem eleitos Papa — segundo o Cardinalium Collegii, plataforma independente formada por especialistas em assuntos do Vaticano.
Nascido no Funchal em 1965, passou os seus anos de formação em Angola. Foi elevado a bispo em 28 de julho de 2018, numa cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, recebendo simbolicamente a antiga sede episcopal de Suava, no norte de África.
Pouco mais de um mês depois, em 1 de setembro, o poeta amante de literatura assumiu a responsabilidade pelo Arquivo Secreto do Vaticano e pela mais antiga biblioteca do mundo, a Biblioteca Apostólica, com a preocupação de preservar “um grande tesouro da Igreja e da humanidade”.
Tolentino foi estudante de teologia na Universidade Católica Portuguesa, onde obteve o doutoramento em teologia bíblica e onde seria mais tarde Vice-Reitor e Reitor.
É hoje visto como uma voz modernista no seio da Igreja Católica, ala onde se tem afirmado como importante figura, sendo atualmente responsável por supervisionar as universidades católicas e acompanhar as dimensões culturais das Conferências Episcopais, o que faz dele um dos cardeais mais respeitados na Cúria Romana.
“Próximo de Francisco” entre os 9 mais papáveis
De facto, o “jovem” madeirense surge entre os mais papáveis.
O The Guardian coloca-o numa lista reduzida a 9 possíveis sucessores, após a morte de Francisco.
“Atraiu controvérsia por simpatizar com visões tolerantes em relação a relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo e por se aliar a uma irmã beneditina feminista que defende a ordenação de mulheres e é pró-escolha [em relação ao aborto]. Era próximo de Francisco na maioria das questões e defende que a Igreja deve envolver-se com a cultura moderna”, escreve o jornal britânico, que nota que a “tenra” idade do candidato pode ser um ponto contra ele: os cardeais mais ambiciosos podem não querer esperar outros “20 ou 30 anos por uma nova oportunidade de serem escolhidos”.
Também o The Telegraph lembra que o madeirense “da ala liberal da Igreja” está nos favoritos e a Sky News recorda que “o cardeal português “fala italiano fluentemente e inglês de forma razoável, além das línguas clássicas hebraico e grego antigos”.
“A um Papa gordo deve seguir-se sempre um magro”?
Na opinião de outros, como o padre José Manuel Pereira de Almeida, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, próximo de Tolentino, a escolha do português para sumo pontífice “é improvável”.
De facto, a história joga contra os portugueses. O único Papa português em mais de dois milénios esteve na Cátedra por menos de um ano, entre 1276 e 1277. O médico lisboeta Pedro Hispano foi João XXI entre 1276 e 1277, ano em que o teto do palácio papal em Viterbo lhe caiu em cima, matando dias mais tarde aquele que foi o único sumo pontífice português da história.
“A minha ideia é que a escolha não irá recair num cardeal europeu”, adianta ainda o padre à Euronews.
Desde que assumiu o pontificado em 2013, Francisco procurou descentralizar o poder da Igreja ao nomear cardeais provenientes da Ásia, África e Oceânia. Enquanto em 2013 os cardeais europeus representavam 56% dos eleitores no conclave, hoje são apenas 39%. Agora, os eleitores representam 73 países, com Itália (17), EUA (10), Brasil (7) a liderar no número de cardeais com voto na matéria, seguidos de Espanha, França e Índia (5 cada).
“Não me admiraria se o próximo Papa viesse de um outro continente que não da Europa”, reforça Pereira de Almeida — apesar de Tolentino ser “um homem muito bem cotado, no sentido em que é muito considerado, muito escutado” no seio da Igreja Católica.
Mas a eleição “improvável” de Tolentino não se resume à geografia. O padrão mostra que a sucessão papal alterna entre perfis reformistas e conservadores: “a um Papa gordo deve seguir-se sempre um magro”, diz a popular frase que há anos ecoa no Vaticano.
E “quem entra Papa no conclave sai cardeal”, diz-se também. Exemplo disso é a eleição improvável de Jorge Mario Bergoglio como Papa Francisco, há 12 anos atrás.
Ora, levando o ditado a sério, o reformador Francisco será sucedido por alguém mais alinhado com os setores tradicionalistas da Igreja — e esse alguém não seria Tolentino de Mendonça, cuja posição progressista em relação à homossexualidade e feminismo é encarada como uma possível barreira à sua eleição.
Para que a Igreja não seja somente dos pobres e simples, talvez seja necessário um Papa intelectual como Tolentino de Mendonça, que ainda por cima, por ser português, é naturalmente tolerante e moderado nas suas posições. Tlalvez com ele a Igreja possa ser também dos cientistas e intelectuais… A propósito, não sou católico…
Desta vez devíamos ter um Papa africano, para variar, o Sr.º Cardeal Robert Sarah é uma boa escolha, ao menos esse é Cristão e acredita em Deus, critérios esses que na minha opinião – embora não tenha religião – devem ser essenciais para o cargo.
Estou inclinada para o cardeal filipino… Se será ou não, o tempo (e Deus) o dirá.