Fragmentos de ossos descobertos em Selinunte, na Sicília, permitiram criar um aulos — um instrumento de sopro que desempenhava um papel central na vida religiosa e social do mundo grego antigo.
Situada na costa sudoeste da Sicília, em Itália, a cidade de Selinunte foi uma das mais importantes colónias da antiga Magna Grécia.
De acordo com o historiador ateniense Tucídides, a cidade foi fundada por uma colónia da cidade siciliana de Megara Hyblaea durante o século VII a.C.
Durante escavações no Templo R, o principal santuário do Parque Arqueológico de Selinunte, uma equipa de arqueólogos encontrou dois fragmentos de ossos que foram identificados como pertencentes a um aulos, um instrumento de sopro frequentemente representado na arte antiga.
Os fragmentos datam do século VI a.C. e pertencem ao chamado “tipo primitivo”, uma classificação alinhada com instrumentos semelhantes encontrados tanto na Grécia continental como nas suas colónias ocidentais.
Em 2023, a musicóloga italiana Angela Beliia usou métodos avançados de digitalização para criar uma réplica impressa em 3D do aulos, abrindo caminho ao estudo tanto na sua análise estrutural como na exploração das suas propriedades acústicas.
Os resultados do estudo, bem como imagens do instrumento musical impresso em 3D, foram apresentados num artigo publicado na revista Archeologia e Calcolatori.
Angela Bellia / Archeologia e Calcolatori

Tomografia computorizada e processos de fabrico manual de um exemplar do instrumento musical antigo “aulos”
Os arqueólogos sugerem que este instrumento em particular era provavelmente utilizado em rituais para honrar Deméter, a deusa olímpica das colheitas e da agricultura, que presidia às colheitas, aos grãos, aos alimentos e à fertilidade da terra.
“Estes dados e comparações ajudar-nos-ão a aumentar o nosso conhecimento sobre a música da Grécia Antiga, em particular na polis ocidental de Selinus”, explicou na altura a musicóloga, citada pelo Heritage Daily.
“Neste local, a importância das atividades instrumentais e corais é indicada pela descoberta de instrumentos musicais e outros objetos sonoros, juntamente com esculturas, vasos pintados e estatuetas de terracota de santuários e necrópoles que apresentam representações musicais”, acrescentou Beliia.
A impressão 3D de Angela Beliia não é a primeira reconstituição conhecida de um aulos. Em 2017, o músico experimental e fabricante de flautas Max Brumberg descobriu o icónico instrumento, semelhante a uma dupla flauta, e apaixonou-se imediatamente por ele.
Brumberg não tardou muito a criar a sua versão do aulos — que apresentou num vídeo publicado no seu canal no YouTube em 2019. Eis então o som do aulos, o instrumento que tocava a música dos deuses: