Antigo primeiro-ministro critica o “duplo fracasso político” e o “enorme esforço de hipocrisia para os encobrir”.
José Sócrates voltou ao espaço público, em novo artigo de opinião no semanário Expresso, centrando-se nas ideias do Governo em relação ao novo aeroporto de Lisboa e ao comboio de alta velocidade.
Os dois assuntos voltaram à actualidade política e, de acordo com o antigo primeiro-ministro, deixaram de ser “projetos faraónicos”, “elefantes brancos” ou “desperdício de dinheiros públicos”. Agora a categoria é “projectos absolutamente indispensáveis e absolutamente urgentes“.
“A mudança é feita com extremo cuidado pelo governo – retomamos os projetos do governo Sócrates, fingindo que não é nada disso que se está a passar”, critica.
Sócrates considera que a história destes dois projectos é a história de “um duplo fracasso político e de um enorme esforço de hipocrisia para os encobrir”.
José Sócrates critica a cobertura da comunicação social “maliciosa” sobre um assunto (aeroporto) que se arrasta há décadas. E lembra que, em 2010, a construção do aeroporto em Alcochete tinha “tudo” para avançar. “Tudo isto foi atirado para o lixo. Catorze anos depois voltámos ao ponto de partida“, lamenta.
Em relação ao comboio de alta velocidade, cancelado em 2011 pelo Governo liderado por Pedro Passos Coelho, deixou de ser um “tabu” que iria durar e agora “renasceu como projecto revolucionário da ferrovia. Para trás ficam onze anos de atraso”, acrescenta.
O anterior governante sublinha que o Governo socialista actual mantém o rumo de “frio calculismo” e tentou fingir que o projecto actual não está relacionado com o projecto dos seus tempos de primeiro-ministro.
Para Sócrates, António Costa apresenta explicações “balbuciadas e incompreensíveis” sobre “a fachada atlântica” e a “nossa função histórica de interface entre o continente e o atlântico”.
É um “exercício retórico manhoso de quem pretende estar a apresentar uma ideia completamente nova, uma ideia completamente original, uma ideia em que ninguém antes havia pensado”.
Sócrates centra-se ainda nas palavras do actual primeiro-ministro sobre o facto de Porto e Vigo não serem capitais e sobre este projecto não ser a diluição de Portugal no todo peninsular.
“Não podemos estar de acordo é na recuperação desse retrógrado conceito estratégico que vê na ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid uma diluição do país na península ibérica e uma ameaça à nossa autonomia estratégica. Há muitas décadas que não ouvíamos tamanho disparate“, atira.
O discurso no Porto de António Costa foi, para José Sócrates, repleto de “mesquinhez“, com o objectivo de “encobrir o falhanço político do adiamento do projeto de alta velocidade”.
A direita política não escapa às críticas, ainda no contexto do comboio a alta velocidade: “A direita conseguiu o extraordinário feito de transformar qualquer investimento público em desperdício e lançar desconfiança sobre qualquer projecto público por mais importante que fosse. Todo o investimento estatal é suspeito, tudo é um risco, tudo é uma aventura, tudo é desperdício de recursos”.
Olha o filósofo…
O problema é que nisto até tem razão.
Mesmo havendo de sobra razão
para só poder opinar desde dentro da prisão,
por ter vivido tão bem
uma vida adjectivada em ão,
não se pode por isso deixar de reconhecer-lha, quando a tem,
a merecida razão.
Filosoficamente poético !
Possívelmente o futuro Lula português.