Os surfistas conhecem-no bem, os emojis representam-no e até os Presidentes norte-americanos o utilizam: chama-se shaka e é um gesto que se baseia em esticar o polegar e o dedo mindinho, enrolando os três restantes dedos contra a palma da mão.
Shaka começou a ser muito popular no Havai nos meados do século XX, graças a David “Lippy” Espinda, o primeiro a relacionar o gesto com esta palavra. Nos seus anúncios televisivos dos anos 60, Espinda atirava um shaka e depois dizia a sua icónica frase: “shaka, brah!”
O gesto foi também usado nos anúncios da campanha de Frank Fasi, o presidente da Câmara mais antigo de Honolulu. Já o surf, em alta nos anos 50 e 60, ajudou a exportar o shaka para o estrangeiro.
As suas origens são, no entanto, desconhecidas. Segundo o Atlas Obscura, uma das teorias sugere que o gesto foi usado, pela primeira vez, pelos primeiros exploradores espanhóis quando pediam uma bebida. Outra afirma que nasceu em meados do século XIX para representar o número seis.
O papel dos indígenas havaianos
O Honolulu Star-Bulletin conta, no entanto, uma história diferente. Há cerca de um século, a mão de Hamana Kalili, um trabalhador das plantações havaiano, ficou presa numa máquina que espremia o sumo da cana de açúcar, acabando por perder três dedos da mão.
A empresa para a qual trabalhava, a Kahuku Sugar Mill, deu-lhe um novo emprego como segurança. De cada vez que acenava, fazia o que agora é conhecido como a mão shaka. As crianças imitavam-no e acabaram por espalhar o famoso gesto.
Cristiana Bastos, investigadora da Universidade de Lisboa e autora do artigo Colour of Labour: the Racialized Lives of Migrants, não tem a certeza de que a história do trabalhador tenha dado origem ao gesto, mas acredita que representa uma época “onde as plantações eram muito importantes” no Havai.
O papel dos indígenas havaianos na história das plantações é muitas vezes negligenciado, pelo que o shaka é, de certa forma, um dos ecos desse capítulo pouco conhecido da história do Havai.
O mais interessante da lenda é o facto de envolver um havaiano nativo. Normalmente, os historiadores concentram-se nos trabalhadores migrantes.
Nas primeiras décadas do século XX, e graças ao fluxo de imigrantes, os trabalhadores das plantações tornaram-se uma população muito mais diversificada.
Chineses, japoneses, portugueses, noruegueses, coreanos, filipinos, russos e porto-riquenhos foram à procura de trabalho na economia do açúcar. À medida que a população das ilhas se expandia tanto em tamanho como em diversidade, a sociedade dividia-se em pessoas haole – brancos estrangeiros que coordenavam as plantações – e “locais”.
Acontece que, com o tempo, os trabalhadores das plantações nascidos no estrangeiro foram sendo considerados “locais” e a história secular da comunidade indígena das ilhas tornou-se cada vez mais esquecida.
Se Kalili foi ou não o pai do shaka não sabemos – mas também acaba por não importar. O seu trágico acidente revela algo ainda mais significante: os havaianos indígenas tiveram uma presença maior na história das plantações das ilhas do que a que imaginávamos.