Era um serviço de luxo, agora é um pesadelo (e residentes recusam pagar)

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La Vigie

Era tudo de classe alta naquele lar: restaurante, gestor pessoal, serviço de compras… até tudo mudar. Ninguém sabe explicar.

A residência La Vigie, em Koksijde, na Bélgica, foi criada há cerca de 10 anos e apareceu como um lar com “todos os encantos de um resort de luxo”.

Tinha um “serviço excepcional” e extenso leque de serviços da sua “empresa mãe”, a Vulpia, que tem mais de 50 instalações na Bélgica, a maioria centrada em cuidados domiciliários para idosos, mas também com lares “de luxo”.

Este em particular teria um restaurante de classe, um gestor pessoal, um serviço de compras personalizado.

Claro que tem um preço: no início 22,5 euros por dia e por casal, quase 700 euros por mês – isto além do valor do arrendamento do quarto (30 euros por dia, ou 1.300 euros por mês em alguns casos). Ultrapassava os 2.000 euros por mês, resumindo.

Com o passar do tempo, e como as pessoas estavam satisfeitas, a Vulpia baixou o preço diário para 15 euros.

As pessoas não se importavam de pagar porque viviam num “paraíso” até há alguns anos: ambiente quente e acolhedor, refeições agradáveis em conjunto, passeios, jogos, um “tecido social” forte e assistência sempre disponível.

Mas algo mudou entretanto.

Sem explicações, a Vulpia praticamente apagou a La Vigie da sua lista de prioridades. Funcionários expulsos, incluindo o assistente residencial, restaurante fechado, nem havia ninguém para reparar o elevador.

“Todas as sextas-feiras, com muito esforço e paciência, empurro a minha mulher pelos 61 degraus até ao salão de cabeleireiro”, conta Hugo Tierens, de 84 anos, no portal Het Nieuwsblad.

Até têm direito a um botão vermelho, obrigatório em lares, que liga a um centro de apoio em caso de emergência. “Prometem responder, no máximo, 30 minutos depois, mas às vezes precisam de pedir ajuda e demora. Em caso de ataque cardíaco, a pessoa já estaria morta”, revela Louis Cornelis, aos 81 anos.

Actividades interrompidas, serviços de luxo cancelados – mas o preço mantém-se.

Alguns residentes já deixaram a residência; os que ficaram estão revoltados e recusam pagar. E já contrataram um advogado.

Mas a responsável Vulpia continuava “surda”, ignorando as queixas dos residentes.

Em Janeiro deste ano, as autoridades locais de saúde inspeccionaram o local. Sem avisar. Encontraram diversas violações, como fraca acessibilidade, falta de acesso ao sistema de chamada de emergência, ou ao assistente do lar.

A Vulpia foi obrigada a aplicar um plano de recuperação: elevador reparado, restaurante aberto mas apenas 10 horas por semana.

“Mas a assistência está longe de ser o que era”, lamenta Tierens.

Noutros lares, em Oostduinkerke e em De Panne, havia 107 moradores, agora são 15. Muitos saíram um ano depois de terem entrado: pagava-se demais para o serviço a que tinham direito. Até ficaram sem água quatro vezes em apenas uma semana.

Os residentes acusam a empresa de prejudicar os clientes e de atrasar as reparações propositadamente: “Eles estão a tentar deixar-nos cansados. O atraso deles é uma táctica deliberada”.

E talvez a maior frustração dos idosos: a Vulpia pode esconder-se atrás do decreto-lei sobre residências assistidas, que apenas descreve muito vagamente quais são as obrigações específicas das empresas – como por exemplo “reforçar a rede social”. Há muitas lacunas exploradas por “empresários inteligentes”, avisa Hugo Tierens.

ZAP //

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