O jovem de 24 anos, detentor do título que premeia a melhor memória do mundo, acredita que todos podem ter essa capacidade. Basta para isso criar um “palácio da memória”.
Se, há uns anos, alguém dissesse a Alex Mullen que seria capaz de memorizar as 51 cartas de um baralho em apenas 21,5 segundos, o jovem de 24 anos provavelmente soltaria uma boa gargalhada.
A sua memória era igual à de um comum mortal, ou seja, não era nada de especial e, na sua opinião, até podia ser considerada “abaixo da média”.
Mas, em dezembro passado, tudo mudou porque, como conta a BBC, o estudante de medicina da Universidade do Mississippi, nos Estados Unidos, ganhou o título de “Melhor Memória do Mundo”.
O jovem alcançou este patamar graças à leitura de um livro, chamado “Moonwalking with Einstein”, da autoria do jornalista Joshua Foer.
Mullen sentiu-se inspirado a melhorar a sua própria memória, ao ler como o autor conquistou a versão americana do prémio depois de conhecer antigas técnicas de memorização.
“Comecei a treinar em 2013, utilizando as mesmas técnicas que Foer falava no seu livro”, conta.
Um ano depois, o estudante ficou em segundo lugar no campeonato norte-americano. “Isso motivou-me para continuar a treinar e acabei a disputar o Mundial”, recorda.
Palácio da Memória
O torneio, disputado em Guangzhou, na China, consistiu em rondas de desafios, entre os quais estavam atividades como, por exemplo, memorizar números, rostos e nomes.
Na ronda final, os participantes tinham de memorizar um baralho de cartas o mais rápido possível. Mullen estava em segundo lugar mas precisou de apenas 21,5 segundos para memorizar as cartas, um a menos que o então líder, Yan Yang.
O jovem americano agora também detém o recorde mundial de recordar números – 3.029 em apenas uma hora. Como é que isso é possível, está o caro leitor a perguntar.
Se não consegue lembrar-se nem sequer de uma lista de compras, saiba que Mullen acredita que qualquer pessoa pode chegar lá através de um simples conceito: o “palácio da memória”.
Para aqueles que não leram as histórias de Sherlock Holmes, o “palácio da memória” é a imagem que guardamos na cabeça de um lugar que conhecemos bem, como a nossa casa ou o caminho para o trabalho.
Tanto nos livros como na recente série televisiva, interpretada pelo britânico Benedict Cumberbatch, o detetive muitas vezes visita o seu “palácio” para fazer as suas incríveis deduções.
A técnica é atribuída ao poeta grego Simonides de Ceos, que viveu nos anos 400 a.C.
Rezam as lendas que o grego estava num banquete quando precisou por momentos de sair da sala. Foi nessa altura que o teto da mansão caiu, matando todos os que estavam no seu interior.
Simonides percebeu que poderia lembrar-se onde todos os participantes estavam sentados e, a partir daí, conseguiu identificar os corpos esmagados.
O episódio terá levado o poeta a descobrir que a melhor maneira de se lembrar de grupos de objetos ou de alguns factos é ligá-los através de imagens organizadas de uma forma específica e ordeira.
Técnicas
Séculos mais tarde, a equipa de Eleanor Maguire, da University College London, no Reino Unido, analisou o cérebros de dez finalistas do Campeonato Mundial da Memória.
A investigadora queria perceber se os participantes tinham diferenças estruturais cerebrais que pudessem resultar nesta predisposição para terem memórias extraordinárias.
Os testes não mostraram diferenças de intelecto ou alterações estruturais, a única diferença pareceu ser o uso de três áreas envolvidas na navegação.
Os donos das super-memórias eram melhores simplesmente porque caminhavam nos seus “palácios mentais”. Para conseguirem lembrar-se de números, cada participante tinha o seu sistema para convertê-los em imagens.
Mullen usa um modelo de duas cartas para memorizar um baralho, isto é, fazendo com que naipes e números se tornem fonemas.
Se o sete de ouros e o cinco de espadas estão juntos, por exemplo, o americano diz que os naipes formam o som “m”, ao passo que o sete vira um “k”, e o cinco, “l”. Juntas, as três letras fazem-lhe lembrar o nome Michael.
O jovem insiste que essa memória extraordinária não é nada de especial e que qualquer pessoa pode desenvolvê-la. Afinal, treinou apenas meia hora por dia para se preparar para o Campeonato Mundial.
É verdade que o americano ainda não consegue viver com o dinheiro dos prémios, mas usa a sua memória para o auxiliar na universidade bem como os seus colegas de turma.
“Faço o possível para promover as técnicas de memória porque são muitos úteis no quotidiano. Quero mostrar que podemos usá-las para aprender mais coisas e não apenas competir”, justifica.
ZAP / BBC
Isto tinha dado muito jeito em algumas comissões de inquérito em que a rapaziada refere sempre não se lembrar de nada. E alguns até ostentam na sua fortuna verdadeiros palácios reais e não mentais.