A pior seca das últimas quatro décadas ameaça levar a Coreia do Norte a uma crise alimentar. A falta de chuva e o seu impacto negativo na produção fazem a Cruz Vermelha e as Nações Unidas antever que dez milhões de pessoas – 40% da população – fiquem numa situação de “necessidade urgente de comida e assistência”, especialmente crianças, idosos quem já sofre de desnutrição.
De acordo com um artigo do Público, divulgado na quinta-feira, a imprensa do regime confirmou, no dia anterior, níveis mínimos de precipitação e assegurou “medidas revolucionárias de prevenção dos danos” causados pela seca.
A agência noticiosa estatal anunciou ter registado, nos primeiros cinco meses do ano, uma redução da precipitação em mais de 42% da média dos anos anteriores. Um recorde negativo que não se verificava desde 1982 e que pode vir a ser agravado, uma vez que os serviços de meteorologia não prevêem chuvas fortes até ao final do mês.
O New York Times escreveu que preço do arroz e do milho mantém-se estável na Coreia do Norte e que, por enquanto, ainda não há relatos de casos de “fome em massa”. A ONU afirmou, no entanto, em comunicado, que o Governo de Kim Jong-un já está a reduzir as rações diárias de comida e que a situação vai agravar-se entre junho e setembro, “se não forem tomadas ações humanitárias adequadas e urgentes” no imediato.
O jornal norte-americano referiu que a Coreia do Sul está a considerar o fornecimento de ajuda humanitária e que o Japão só admite fazê-lo mediante sinais do regime de abdicar do seu programa de desenvolvimento nuclear.
A Cruz Vermelha está a angariar fundos para a instalação de bombas de água no país e alerta para o facto de a produção alimentar já estar em queda, pelo menos desde 2017 – regista uma diminuição de 12%, em 2018, em relação ao ano anterior. Mostrou ainda preocupação com a situação dos menores que já sofrem com fome no dia-a-dia.
“Estamos particularmente preocupados com o impacto que esta seca precoce vai ter nas crianças e nos adultos que já lutam pela sobrevivência. Antes da seca já se verifica que uma em cada cinco crianças, com menos de cinco anos, sofre de raquitismo por causa de má alimentação”, referiu o responsável pela delegação da Cruz Vermelha na Coreia do Norte, Mohamed Babiker, citado pelo Guardian.
O território norte-coreano já tinha sido afetado por graves secas em 2015 e 2017 que atingiram seriamente as suas colheitas de arroz, milho, soja e batata. Na altura, como em ocasiões anteriores, o regime comunista responsabilizou a ONU e os Estados Unidos pelos prejuízos, muito por culpa das sanções que lhe foram impostas, na sequência da realização de ensaios balísticos e nucleares.
A pior crise alimentar das últimas décadas na Coreia do Norte ocorreu entre meados dos anos 90 e início do século 21, na ressaca da implosão da União Soviética e entre períodos de graves cheias e seca severas. O número total de mortos nunca foi oficializado, mas as estimativas apontam para mais de dois milhões.
Quem tem dinheiro para bombas deve ter para comida
E tem.. para ele!!