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Tanto os Republicanos como os Democratas estão descontentes com a versão final do acordo conseguido por Joe Biden e Kevin McCarthy e paira no ar a ameaça de um chumbo na Câmara dos Representantes.
Depois de várias semanas de negociações complicadas, Joe Biden chegou este domingo finalmente a um acordo com Kevin McCarthy, o presidente da Câmara dos Representantes, para uma subida do limite da dívida, de forma a travar um incumprimento que seria catastrófico para a economia global.
Mas ninguém parece estar contente. Como já se antecipava, o acordo deixa a nu as dificuldades que tanto Biden como McCarthy têm em agradar às franjas mais radicais dos seus respectivos partidos, com uns a achar que o acordo vai longe demais e outros a considerar que não vai longe o suficiente.
Em troca do apoio para a suspensão do actual tecto da dívida até Janeiro de 2025, Biden concordou cortar nas despesas públicas discricionárias, de modo a que os valores em 2024 fiquem mais ou menos iguais aos de 2023. A despesa pública também só subiria 1% em 2025.
Os Republicanos já disseram aos seus membros que os gastos seriam cortados para níveis de 2022. O acordo inclui também um mecanismo orçamental chamado “pay-go”, que indica que novas leis que afectem os gastos com o Medicare, a segurança social ou outros programas sociais não podem fazer mossa no orçamento.
O calendário na extensão do limite da dívida significa que este problema não voltaria a dar dores de cabeça a Biden até às eleições presidenciais do próximo ano.
O acordo prevê um corte geral às despesas, mas com a excepção do orçamento militar, que deverá subir 11% e chegar aos 885 mil milhões de dólares, relata o The Guardian. Em troca, Biden conseguiu um reforço de 80 milhões para o Fisco fiscalizar com mais rigor o aumento de impostos sobre os mais ricos que já tinha sido incluído no Inflation Reduction Act do ano passado.
Antecipa-se também a recuperação de fundos para o alívio da covid que nunca foram usados, incluindo dinheiro reservado para a investigação de vacinas. No total, o valor destes fundos fica entre 50 mil e 70 mil milhões de dólares. O pacote também irá cortar 400 milhões de dólares de financiamento do Centro de Controlo de Doenças.
Os americanos mais pobres não escaparam ao radar Republicano, com McCarthy a exigir a imposição de requerimentos de trabalho mais apertados para quem beneficia de programas públicos de apoio à saúde ou ao acesso à comida.
Quem tem dívidas estudantis também terá de as repagar, com os Republicanos a fechar a porta a programas de apoio à liquidação. No entanto, esta medida ainda não está fechada dado que o Supremo ainda está a avaliar a ordem executiva de Biden que promete um apoio de 20 mil dólares a cada devedor.
O pacote vai também facilitar a autorização para a exploração de projectos energéticos, tanto de combustíveis fósseis como de energias renováveis.
“É uma má política”
Os Republicanos mais radicais não estão felizes com as concessões obtidas por McCarthy. O congressista Chip Roy aponta que a única forma de 95% dos Republicanos apoiarem o acordo seria se “ainda não tiverem sido educados sobre a sandes de cocó que isto é, mas sê-lo-ão”.
O Senador J.D. Vance considera também que quanto mais aprende sobre o acordo, mas acha que “é uma má notícia”. “A redução do défice nem é o assunto mais importante para mim. Não temos segurança na fronteira. Não é claro que tenhamos conseguido alguma coisa”, aponta.
O congressista Ken Buck, também considera o acordo “completamente inaceitável” e uma “grande vitória para Joe Biden“. “Os conservadores fazem estes compromissos mal feitos ano após ano e é por isso que temos uma dívida de 31 BILIÕES DE DÓLARES agora”, critica a representante Lauren Boebert.
Do lado dos progressistas, também há muito descontentamento com a versão final do acordo. A congressista Pramila Jayapal, que lidera o caucus progressista dentro dos Democratas, descreve o pacote como uma “má política“, especialmente a medida que aumenta os requerimentos para o acesso a apoios sociais.
“Eu disse isso directamente ao Presidente quando me ligou na semana passada. Isto é dizer às pessoas pobres e que precisam de ajuda que não confiamos neles. E a quantidade média de apoio do SNAP (programa de apoio à comida) é seis dólares por dia. Estamos a falar de seis dólares por dia. Acho que é muito infeliz que o Presidente tenha aberto esta porta”, aponta à CNN.
O acordo deve ir a votos na Câmara dos Representantes esta quinta-feira, podendo depois seguir para o Senado. Os Republicanos antecipam que o acordo consiga 150 votos na Câmara dos Representantes, mas a oposição interna significa que é provável que sejam precisos votos de Democratas para que o pacote seja aprovado.
Cabe agora a McCarthy e Biden tentar convencer os membros dos seus respectivos partidos de forma a conseguirem os votos necessários para a sua aprovação, numa corrida contra o tempo, já que os Estados Unidos devem entrar em incumprimento já a 5 de Junho.