Rússia quer legalizar comércio de ‘diamantes de sangue’ africanos

Os diamantes exportados da República Centro-Africana estão associados à corrupção, à violência, à guerra civil, a violações e assassinatos. Agora, Moscovo anunciou que quer o fim do embargo internacional, buscando legalizar na totalidade a sua comercialização.

Segundo a maioria das estimativas, mais de 90% desses diamantes são exportados através do mercado negro. Na terça-feira, Alexei Moiseyev, vice-ministro das Finanças da Rússia, disse que era hora de reconhecer que a proibição não está a funcionar e legalizar o comércio de diamantes na totalidade, noticiou esta quinta-feira o Independent.

“As proibições atuais são injustas para as pessoas pobres que só podem ganhar um salário”, disse, acrescentando que “praticamente todos os diamantes acabam no mercado mundial como contrabando, com os lucros a serem utilizados ​​por criminosos”.

Contudo, para alguns ativistas, a posição oficial russa é “desonesta”. Na sua opinião, Moscovo está interessada em lucrar com o comércio, referindo que indivíduos com laços estreitos com o Kremlin estão prontos para beneficiar com a alteração das regras.

No próximo ano, a Rússia presidirá o Processo Kimberley, um programa mediado pela ONU, destinado a interromper o fluxo de lucros de diamantes para milícias armadas. Representando 82 países, o programa afirma ser responsável por interromper 99,8% da produção desses diamantes em zonas de conflito. Mas, até ao momento, pouco tem feito para conter o comércio ilícito na República Centro-Africana.

Em 2013, as exportações de diamantes desse país foram totalmente proibidas por receio de que os lucros estivessem a alimentar alguns dos grupos armados mais violentos do país. Três anos depois, a proibição foi parcialmente suspensa em regiões controladas pelo Governo. Agora, a Rússia quer que as exportações de todas as regiões sejam legalizadas.

É improvável que a iniciativa de Moscovo de reverter o embargo internacional aos diamantes da República Centro-Africana seja bem-sucedida, disse ao Independent o ativista Brad Brooks-Rubin, do Enough Project, uma organização não governamental focada nos esforços anticorrupção na região.

(dr) Alrosa PJSC

Esta não é a primeira vez que essa medida é sugerida. A mesma já havia sida impulsionada pelo Dubai e pela Índia, grandes ‘players’ da indústria de diamantes. Mas o fato de a Rússia estar a pressionar nesse sentido poderia significar que atrairia “algum apoio”, referiu Brad Brooks-Rubin.

De acordo com o Independent, a Rússia está em processo de se restabelecer como potência na África, após três décadas de relativa negligência.

Na era da Guerra Fria, Moscovo desfrutava de boas relações militares e comerciais com muitos municípios do continente mas isso terminou com a queda da União Soviética. Atualmente, a China é o principal ator no continente.

Para Dmitri Bondarenko, antropólogo do Instituto de Estudos Africanos da Rússia, a parceria com o empobrecido país, rico em minerais, é “demonstrativa” dos projetos da Rússia para a região.

 

Em 2018, a República Centro-Africana e a Rússia assinaram um acordo de cooperação de segurança, sob o qual o exército russo está a treinar a guarda presidencial local. Na mesma altura em que Moscovo enviou os seus soldados oficiais para a África, exércitos particulares também começaram a aparecer perto de áreas de mineração de diamantes.

Desde então, esses mercenários foram vinculados a Yevgeny Prigozhin, um parceiro do Presidente russo Vladimir Putin. Em 2019, foi relatado que uma empresa associada a Yevgeny Prigozhin recebeu direitos de mineração de diamantes no país.

Ainda em 2018, três jornalistas foram assassinados ao tentar relatar as ligações russas à indústria de diamantes na República Centro-Africana. Segundo uma investigação, estes foram mortos quando estavam sob vigilância de homens associados a Yevgeny Prigozhin. A Rússia negou qualquer conexão com a morte dos jornalistas.

ZAP //

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