Observou-se, nos EUA, uma disparidade significativa no diagnóstico do cancro do útero (ou do endométrio) entre mulheres brancas e mulheres negras. A razão pode estar além da ciência.
Um estudo publicado recentemente no JAMA Oncology sugere que as ecografias de rastreio do cancro do útero são menos eficazes em mulheres negras.
O cenário atual está a contribuir para diagnósticos tardios e um risco acrescido de mortalidade nesta população.
As ecografias são comummente usadas para determinar se uma paciente necessita de procedimentos mais invasivos, como biópsias.
De acordo com a Live Science, a incidência deste que é o dos tipos de cancro mais comuns entre mulheres está a aumentar, particularmente em mulheres negras, que também enfrentam uma probabilidade maior de mortalidade em comparação com mulheres brancas.
À mesma revista, a líder da nova investigação Kimi M. Doll referiu que há uma tendência preocupante de mulheres negras serem frequentemente diagnosticadas em estágios mais avançados da doença.
“As mulheres negras são mais propensas a serem diagnosticadas em estágios posteriores da doença e são mais propensas a sofrer atrasos no diagnóstico“, concluiu a investigadora, após análise dos registos médicos de cerca de 1500 pacientes negros tratados em 10 hospitais do sudeste dos EUA.
Outros estudo já tinham revelado que, mesmo após apresentarem hemorragia pós-menopausa (um dos primeiros sinais de cancro do endométrio), as mulheres negras eram menos propensas a ser encaminhadas para biópsias comparativamente com as mulheres brancas.
Esta insuficiência do teste pode estar ligada a outros fatores, como a presença de miomas, que são mais comuns em mulheres negras e podem afetar a precisão dos ultrassons.
O estudo também indicou que certas práticas, como a realização de exames mais breves em pacientes com dor pélvica, poderiam aumentar o risco de resultados falsos-negativos.
Os resultados apontam para a necessidade de biópsias de tecido em pacientes negras que apresentem sintomas, para evitar erros de diagnóstico. Além disso, é essencial fazer-se um diagnóstico médico contínuo para evitar que se perpetuem as atuais disparidades de saúde.
Kimi M. Doll explica que, em muitas ocasiões, se presume que as pessoas têm diagnósticos atrasados porque não estão a receber cuidados, mas: “O que a minha investigação tem vindo a mostrar ao longo dos anos é que mesmo as mulheres negras com seguro, que vão ao médico, parecem continuar a receber diagnósticos em fase avançada”.
A especialista teoriza que a “insensibilidade dos testes de rastreio” pode ajudar a explicar o facto suprarreferido.