Radian One: um avião orbital a um passo do Santo Graal da aeronáutica

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A Radian Aerospace anunciou planos para conseguir o Santo Graal da aviação aeroespacial: uma nave orbital que descola na horizontal.

Uma nave espacial reutilizável, semelhante ao mítico Space Shuttle, mas que descola na horizontal de uma pista, como um avião tradicional, vai ao espaço volta?

Sim, o Santo Graal da aeronáutica pode estar mais perto. A Radian Aerospace anunciou estar a desenvolver uma nova aeronave capaz de realizar uma viagem espacial de uma só fase até à órbita.

De acordo com a Ars Technica, o Radian One é um veículo semelhante a um avião, que descola de uma pista de descolagem (com a ajuda de uma espécie de “trenó”, acende os seus poderosos motores, atinge a órbita da Terra, e depois regressa, aterrando novamente numa pista de aviação tradicional.

Até agora, todas as naves orbitais partem da Terra montadas em potentes foguetões propulsores, que as lançam até próximo da sua órbita. E mesmo o Space Shuttle, que no seu regresso aterrava numa pista tradicional, era lançado verticalmente por um destes foguetões.

O projeto prevê que o Radian One tenha capacidade de levar a órbita até cinco pessoas e 2.268 kg de carga. Com uma massa total de cerca de 4,536 toneladas, é alimentado por três motores de combustível líquido.

A empresa norte-americana assegura que o Radian One será capaz de levar a sua carga até qualquer parte do mundo em menos de uma hora — ou então, permanecer em órbita por períodos de até 5 dias.

A ideia é que se aproxime o mais possível das operações aéreas tradicionais: voar, aterrar, reabaster e voar novamente — em menos de 48 horas.

Todos compreendemos como isto é difícil“, realçou Livingston Holder, co-fundador de Radian e ex-diretor do programa X-33 da Boeing.

Para desenvolver o projeto, a Radian Aerospace concluiu com sucesso uma ronda de investimento liderada pela Fine Structure Ventures, que lhe valeu 27,5 milhões de dólares — num total de cerca de 32 milhões de dólares angariados até agora.

Richard Humphrey, CEO da Radian, e Holder explicaram que seria necessário um financiamento muito maior para construir um avião espacial orbital tão ambicioso — e atingir capacidade operacional muito antes do fim da década de 2020.

Segundo Humphrey, a empresa já construiu e testou o seu primeiro motor “à escala real”. Com potência máxima, o motor alimentado por criogenia terá um impulso de cerca de 90718 kg.

“Ainda estamos nos primórdios desta tecnologia”, alertou Humphrey. “Dominamos os fundamentos, podemos iniciá-lo, podemos pará-lo, e estamos a tomar uma série de pequenos passos progressivos para chegarmos a uma capacidade total“.

Santo Graal da aviação aeroespacial

Humphrey, Holder, e os outros co-fundadores da empresa, Curtis Gifford e Jeff Feige, têm passagens pela NASA, pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e em várias empresas aeroespaciais.

Essa experiência permite-lhes reunir informação de projetos anteriores da NASA e de empresas que tentaram anteriormente desenvolver uma nave espacial de uma só fase até à órbita.

Foi o caso da XCOR Arospace, que procurou construir um avião espacial suborbital, mas teve de encerrar há cinco anos por falta de financiamento.

A última tentativa da NASA de construir um avião espacial deste género ocorreu no final dos anos 90, com o seu “Programa de Veículos de Lançamento Reutilizáveis“, que levou ao surgimento do programa X-33.

A NASA acabou por selecionar um projeto da Lockheed Martin para o X-33, que acabou por ser cancelado em 2001— devido a diversos problemas técnicos, e porque as prioridades da NASA mudaram.

Mas, nota Humphrey, muita coisa mudou nas últimas duas décadas, e o desenvolvimento privado de um veículo orbital tornou-se mais viável.

Os componentes aeroespaciais leves eram, na sua maioria, experimentais, mas agora são um tipo de tecnologia melhor estudada e compreendida.

As empresas privadas que realizam lançamentos espaciais também já usam com mais frequência propulsores líquidos, que têm melhor desempenho durante o voo — algo que a Radian planeia fazer.

E talvez o mais importante, na sequência do sucesso da SpaceX com o seu programa de lançadores reutilizáveis Falcon, há cada vez mais capital privado a fluir para as operações de voos espaciais.

Assim, deverá ser mais fácil para a Radian angariar os sunstanciais fundos de que necessita para criar o seu avião espacial orbital: mais de mil milhões de dólares.

Se a Radian tiver sucesso, é provável que se abram grandes mercados. Um veículo como o Radian One poderia transportar pessoas para estações espaciais comerciais em órbita terrestre baixa, que a NASA procura desenvolver até 2030.

Mas há inúmeras oportunidades para este tipo de aeronaves: realizar trabalhos de observação da Terra, recolher produtos futuramente fabricados em órbita, e realizar missões rápidas de transporte entre dois pontos do planeta — com uma passagem fugaz pela órbita da Terra.

Será que a Radian vai conseguir ter sucesso onde todos os outros falharam até agora? Por algum motivo este é o Santo Graal da aeronáutica…

Alice Carqueja, ZAP //

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