O ensino à distância, nos tempos de pandemia, trouxe novos desafios e novas necessidades. Resultado final: mais boas notas e menos retenções. O ministro da Educação diz que tal cenário não foi normal. Então, quem se terá enganado? O sistema, os professores ou os alunos?
2020 – o ano da covid – foi marcado por mudanças forçadas no sistema de ensino.
Por esse motivo, essa fase não pode servir de referência em estudos comparativos, explicou o ministro da Educação, João Costa, em entrevista ao jornal Público.
2020 foi o ano em que menos alunos chumbaram – números que estão dentro daquilo que o ministro considera ter sido uma “anomalia”.
Ainda assim, João Costa negou que tivesse havido alterações de critérios e indicações para que houvesse menos retenções.
O ministro diz que, se isso aconteceu, foi por iniciativa das escolas, mas que ia sendo sempre informado.
Ao Público, o presidente do Conselho das Escolas, José Eduardo Lemos, diz que tais mudanças “não ocorreram por opção das escolas ou para benefício dos alunos, mas sim por imposição das circunstâncias“.
“Obviamente que houve mudanças. A pandemia obrigou as escolas a alterar muitos procedimentos e metodologias. Desde a redução do número de aulas por semana, passando pelos horários dos alunos, pelos métodos e pelas pedagogias de ensino até aos instrumentos e critérios de avaliação, tudo teve de ser alterado e adaptado”, admitiu o também diretor da Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa do Varzim.
Ao matutino, Lígia Violas, professora de Educação Física, contou que “os conselhos pedagógicos emitiram pareceres e recomendações para não reter ninguém, especialmente os alunos de meios mais desfavorecidos (…) Como é que poderíamos ter garantias de que os alunos que não cumpriam ou apareciam não o faziam por falta de rede, falhas técnicas dos computadores ou por não saberem usar os equipamentos?”
O que é certo é que, nesses anos, “a desigualdade acentuou de uma forma avassaladora”, lamentou.
Por exemplo, em relação aos alunos que cumpriam com os objetivos: “como é que garantíamos que o trabalho era feito mesmo por eles e não pelos pais, irmãos mais velhos ou explicadores?”, interrogou a professora.