O ritual de maldição envolve usar um pau untado com gordura animal ou humana e objetos da vítima.
Numa descoberta inovadora, os arqueólogos desenterraram dois paus antigos na gruta de Cloggs, em Victoria, no sudeste da Austrália, que demonstram práticas culturais que remontam a há 12 mil anos. Estes paus, utilizados em rituais provavelmente para amaldiçoar, constituem a mais longa prova contínua de uma prática cultural em qualquer parte do mundo.
A gruta de Cloggs, dentro do território do povo GunaiKurnai, foi inicialmente escavada na década de 1970 sem a sua consulta, o que resultou em descobertas limitadas. No entanto, uma colaboração renovada em 2009 entre os representantes do povo GunaiKurnai e os antropólogos da Universidade de Monash revelou-se muito mais bem sucedida.
Um novo estudo publicado na Nature Human Behavior concentrou-se numa parte da gruta não afetada pelo colapso de um sumidouro com 6000 anos, onde foi descoberto um pau de Casuarina ligeiramente queimado, com cerca de 40 centímetros de comprimento, datado por carbono com 12 mil anos.
Este pau, com lípidos de gordura humana ou animal e ramos meticulosamente descascados, indicava uma utilização ritualística e não como fonte de calor ou alimento. Escavações posteriores revelaram um segundo pau, cerca de 1000 anos mais novo, com um processamento semelhante e uma extremidade angular semelhante a um arremessador de lanças, um instrumento de poder nas culturas indígenas, explica o IFLScience.
A preservação dos paus é notável devido às condições secas da gruta, aos níveis de pH neutros a ligeiramente alcalinos, ao mínimo desgaste mecânico e ao rápido enterramento por sedimentos finos e cinzas de incêndios de baixa temperatura. Estes factores criaram as condições ideais para a sobrevivência dos artefactos.
Embora a memória cultural específica da utilização dos paus se tenha perdido entre os sobreviventes do povo GunaiKurnai, o etnógrafo do século XIX Alfred Howitt tinha documentado essas práticas. Howitt descreveu um ritual de maldição que envolvia um bastão de Casuarina, untado com gordura humana ou animal, e itens da vítima pretendida, presos com penas de gavião. O pau era colocado junto a uma fogueira, com o mulla-mullung (uma pessoa altamente treinada) cantando o nome da vítima. Os paus encontrados correspondem exatamente às descrições de Howitt.
A descoberta realça a importância de combinar os conhecimentos tradicionais com as técnicas científicas ocidentais.